Bonsucesso e Nacional do Ladeira

MAGELA: Depois que o Bonsucesso… Porque o Bonsucesso era o meu time. O Bonsucesso eu vi a primeira vez ele jogando. Jogando eu vi várias vezes, garotinho, no campo do Ladeira, da Avenida Surerus. Mas o Bonsucesso eu vi disputando um título contra o Guanabara. Eu já contei isso. Título de Campeão Juvenil da Liga Varzeana de Futebol. Porque tinha uma Liga Varzeana, tinha a Liga de Desportos de Juiz de Fora e tinha a Liga Varzeana. E o Bonsucesso, em 1938, disputou o título juvenil, e eu vi o jogo. Foi no campo do Leopoldina. Bonsucesso e Guanabara. O Bonsucesso perdeu de 1 a 0 e o Guanabara foi campeão. O Gol do Guanabara foi feito pelo Heleno de Freitas. O Heleno de Freitas veio de São João Nepomuceno pra estudar em Juiz de Fora, no Granbery. E ele jogando futebol, ele sempre gostou, jogou no Guanabara e fez o gol. Eu lembro como se fosse agora o time do Bonsucesso, gravou na minha cabeça, fiquei muito triste porque o Bonsucesso perdeu, nós fomos. O pessoal do Ladeira pra ver o jogo, voltamos muitos tristes, com a asa caída porque perdemos.
O Bonsucesso jogou com o Zé Loló, que depois foi tenente do exército aqui da Rua Maria Perpétua. Natalino e Juca, Natalino morava no Ladeira, o Juca na Avenida Surerus, Juca filho da Dona Mariquita mulher do seu Soares, Dona Mariquita que me levava pra ir no carnaval. Tinga, morava na Bernardo Mascarenhas. Nilo, que morava no Ladeira e Pouca Roupa, que morava no Vitorino Braga. Pouca Roupa depois jogou nos times profissionais, trabalhou muitos anos nos Correios. Totonho, morando no Mejolaro, hoje Nossa Senhora Aparecida, Totonho, pai do Jorginho, que foi um dos grandes jogadores de futebol de salão de Juiz de Fora. Totonho, Paulinho, Lulu, mora no Ladeira, ainda vivo, como o Juca também vivo, Barraca e Tão. Esse foi o time do Bonsucesso.
Que veio a disputar um outro título amador em 1948, na Liga de Futebol Varzeano. Esse jogo foi realizado no campo do São Cristóvão, na rua 7 de Setembro. 1948. Eu Joguei. O Bonsucesso foi campeão varzeano.
Foi Geraldinho, Gaia e Malaquias. Geraldinho eu, Gaia que depois foi pro América Mineiro, de Belo Horizonte, Malaquias, ainda vivo, mora aqui em Juiz de Fora na Rua São João. Perácio mora no Bairro de Lourdes. Gonzalês que foi contador e mais tarde dono da malharia São Jorge, casou com a filha do dono. E Austeclínio, que jogou comigo também no juvenil do Sport Clube Juiz de Fora. Perácio, Gonzalês e Austeclínio. Nininho, trabalhava banco Itaú, falecido, Morava no Ladeira. Iara, Iara Mattos, filho do general Mattos, trabalhou no banco e trabalhou na FEEA, Fábrica de Estojos e Espoletas, onde tinha um time de Futebol. Nininho, Iara, Lulu, Barraca e Papuça.
O Bonsucesso ganhou do São Bernardo, do morro do São Bernardo, por 1 a 0. Depois o Bonsucesso acabou. Acabou mais tarde, ainda teve alguns anos. Ele foi até 1952, depois acabou, em 51 acabou. E os garotos lá acabaram formando um outro time e me chamaram pra ajudar. Que era o Nacional do Ladeira. O Nacional do Ladeira foi que me levou para o futebol profissional. Eu saí do Nacional pra treinar o Tupi juvenil. Não o Tupi juvenil eu fui ao sair do Bonsucesso. Do Nacional eu fui pra ser auxiliar do Airton Moreira. Como é que eu fui ser auxiliar do Airton? Porque o Nacional era um time arrumado, eu sempre gostei muito de observar futebol, lia muito sobre futebol, assistia muito futebol. E o Nacional era a semelhança daquilo que eu pensava sobre futebol. Então tinha uma turma de garotos, Geraldo Barata, Joãozinho, Jaime Belardini, Hélio Aleixo, Jorge Aleixo, Cazuza, Denone, Dilvo, Gonzaga, Pedrinho, Filhinho… Era o Nacional. E eu armava, treinava no campo da Portuguesa aqui no Bonfim. Levava os meninos lá, ficava treinando… E um dia me pediram pra levar o Nacional pra treinar com o Tupi. Todo mundo gostava de jogar com o Nacional, porque o Nacional era muito técnico, não tinha briga, garotada muito disciplinada. E eu exigia muito. E me pediram pra treinar com o Tupi. O Airton Moreira que tinha vindo do Bangu pro Tupi. O Airton Moreira da família Moreira, Zezé Moreira foi técnico do Fluminense e da seleção brasileira. Aimoré Moreira, foi técnico também do Botafogo de São Cristóvão, Campeão do Mundo de 62 com a seleção brasileira. E o Airton, também da família, foi um grande jogador, um grande zagueiro, e seguiu também a vocação dos irmãos e dirigiu alguns clubes. O tupi atravessava uma fase difícil nas suas performances dos campeonatos e o seu Tufi, o seu José Kalil Ahouagi, buscou o Airton Moreira pra treinar o Tupi. E o Airton veio pra Juiz de Fora e ele precisava de times pra servir de sparring pro Tupi.
E falaram com ele que tinha um time arrumadinho aqui chamado Nacional e nós fomos lá treinar com o Tupi. Um domingo de manhã, um calor… Aí fomos lá. Chego lá, o Airton falou comigo:
– O seu goleiro fica no gol do Tupi. E o meu goleiro, e o goleiro do Tupi, que era o Toti, fica no gol do Nacional.
Eu falei: Tudo bem. Não tem problema não.
Por que ele queria fazer isso? Porque ele achava que o Tupi ia dar um sacode daquele violento no Nacional. O que aconteceu? O goleiro que teve que se desdobrar foi o do Nacional que estava no gol do Tupi. Fizemos 1 a 0, o jogo ficou duro, difícil, prorrogamos e aí eles empataram o jogo.
Eu vi que ele saiu meio aborrecido, mas daí a um pouco me chamaram, eu já estava vindo embora, me chamaram e ele estava no vestiário. Aí ele me chamou se eu podia levar o time lá pra treinar outra vez. Eu não sei se ele queria porque ele gostou do time do Nacional ou se ele queria porque ele queria treinar de novo e dar um coça no Nacional. Aí, ele queria na terça-feira, aí eu falei:
– Não dá não, os meninos estudam de noite. Não dá.
Até que na outra semana nós fomos treinar lá numa quart- feira. Começou numa tardinha e depois acendeu a luz, uma luz horrível. Juiz de Fora não tinha boa iluminação. E nós ganhamos o treino de 1 a 0. Aí tem que explicar, nós ganhamos por quê? Porque o Tupi treinou e o Nacional jogou. Era um orgulho para os nossos garotos do Nacional treinar contra o Tupi.
Quase no finalzinho do treino, ele me chamou. Falou preciso falar com você. E me chamou pra ser auxiliar dele. Aí eu fui ser auxiliar do Airton, foi aí que o Nacional me levou pra primeira divisão e dali eu fui levando a minha “via crucis” como treinador, até bem pouco tempo.