MAGELA: Eu fazia os comícios dele (Bejani). O comício dele era coisa mais bonita que tinha na cidade. O comício do Bejani tinha uma vantagem: Porque você podia fazer shows! E você fazendo shows você atrai o eleitor, tanto quanto pela presença do candidato, se ele for carismático, quanto pelo show que vai se apresentar. Mas não é fácil fazer comício. Fazer comício você tem que ir no local que você vai fazer comício, escolher o local, comunicar à Polícia. Você não tem que pedir licença não, comunicar à Polícia que você vai fazer o comício naquele local, comunicar à Cemig, pedindo a ela reforço de eletricidade para você poder instalar aparelhagem de som, paga-se por isso, e você tem que estudar o local. Estudando local, você vai fazer o quê? Montar o palco. Eu nunca fiz comício a não ser com palco, eu sempre fiz comícios com palco, nunca foi boleia de caminhão. Eu acho ridículo montar um… E com a boca larga no palco para comportar todo mundo, porque todo mundo quer engarupar no palco. Quando é eleição de prefeito então com vereador, é uma loucura. A luta é terrível para você conseguir disciplinar quem vai falar, quem não vai falar. A princípio você diz: Bom, fala o candidato daquele bairro! Aí um:
-Eu sou candidato de todos os bairros!
Todo mundo é candidato de todos os bairros. Então você pega um comício que tem 60 candidatos, 60 falando 1 minuto ou 2 minutos, são 120 minutos, são duas horas. E o povo fica com o saco cheio, quando o candidato a prefeito vai falar, já foi todo mundo embora.
FLÁVIO: Esses artistas que vão, normalmente eles estão envolvidos ou eles são pagos?
MAGELA: São pagos. Como você paga também os montadores de palco, você paga os que são decoradores… Aí você vai embandeirar a praça com bandeirola, faixas… Faixas verticais eu só fiz um. Bandeirolas, faixas. Testar o som. E você sai de lá estressado, porque você combina tudo com tempo e hora e, normalmente, todo mundo atrasa. Ninguém tem responsabilidade. É o montador de palco que atrasa, é o som que atrasa, os que vão embandeirar que atrasam… É uma loucura! Você tem que ter muita paciência para fazer bem feito. Os comícios que eu montava eram muito bem feitos! Modéstia à parte.
FLÁVIO: O som tem que ser…
MAGELA: O Som tem que ser um excelente som! Você vai a um quilômetro de distância para saber se o som está chegando lá! Porque você tem que atrair as pessoas de longe. Aí você… Está tudo pronto: palco, decoração, faixas… Tudo pronto. Agora, som tem que estar bom. O que você faz? Seis horas tem que estar tudo pronto. Aí você põe músicas populares ou alguém grava uma chamada ou você mesmo vai lá toda hora e fala:
– Daqui a pouco fulano de tal estará aqui, beltrano estará aqui. Show com fulano de tal… Você vai chamando atenção! Aquele que não está projetado ir, de repente fala: Tá enchendo tanto o saco que eu vou lá ver. É assim que faz!
Aí vem o primeiro a falar, 7 horas da noite. Alguém tem que subir às 7 horas. Porque tem muito candidato, candidato a prefeito, principalmente, a vereador falando, o líder do bairro também tem que pegar pra falar, quer falar pra mostrar que tem prestígio. Aí você…
FLÁVIO: Você só vai apresentar o prefeito ou durante a apresentação você também anima?
MAGELA: Tudo! Você já abre a comício. Entendeu? Anuncia o fulano, quando ele demora muito tem que estar puxando a roupa dele. Tem uns que dá vontade de dar um chute na bunda de tanto que ele demora. Aí puxa o outro, puxa o outro e anunciando o que vem. Nessa altura o candidato a prefeito já está com saco cheio, doido para subir para falar porque ele acha que o pessoal vai embora. Mas eu tinha um hábito. Iniciava às 7 horas e 10 horas eu encerrava o comício.
FLÁVIO: Você percebia, você que estava ali, você via se o pessoal estava de saco cheio?
MAGELA: O show acaba aprendendo! Sete horas entra a banda, ela toca uns 15 minutos e entram 2 candidatos. Se você sentir que está bom você bota três, aí volta a banda. Aí mais dois e vai assim, vai intercalando, entendeu? Até que quando for mais ou menos 21:30 o candidato a prefeito vem e fala. Ele vai falar de 15 a 20 minutos. Quando ele acaba de falar o pessoal vai embora. A banda toca mais um pouquinho, você dá boa noite e tchau. Já sai para montar para o do outro dia e vai para o outro dia… É uma loucura!
FLÁVIO: E mais de um comício na mesma noite? Como é que é?
MAGELA: Já fizemos dois comício na mesma noite, mas é muito complicado! Muito complicado! O próprio candidato tem dificuldade do deslocamento. Mas já fiz, já fiz dois comícios em uma noite.
FLÁVIO: E a música tem que ser sempre animada, né? Um samba…
MAGELA: Essa música que tá rodando aí…
FLÁVIO: Michel Teló!
MAGELA: Michel Teló.
FLÁVIO: “Ai se eu te pego”.
MAGELA: Isso aí tinha que estar tocando aí em tudo quanto é comício. Agora não pode mais fazer show! Agora o candidato é que tem que levar público. Você já imaginou? Tanto que os comícios vão perdendo o interesse, o povo vai perdendo o interesse. Eu fiz um comício aqui no Manoel Honório, nessa praça aqui, uma coisa linda, multidão! Eu fiz grandes comícios! Esse comício que eu falei que veio Figueiredo, que o Figueiredo quebrou todos os protocolos, foi um dos comícios mais expressivos. Outro comício também muito expressivo que nós fizemos, foi do encerramento da campanha do Itamar pra senador.
FLÁVIO: Em Juiz de Fora?
MAGELA: Em Juiz de Fora. Belo Horizonte não foi muita gente não, mas foi bastante. Outro comício expressivo que nós fizemos foi o do Sermão da Montanha! Não tinha quase ninguém, uma chuva daquelas. Mas o que nós montamos na TV Industrial parecia que tinha uma multidão lá em cima.
FLÁVIO: O pessoal com guarda-chuva?
MAGELA: É. O pessoal com guarda-chuva, você varria os guarda-chuva, tinha impressão que tinha muita gente.
Agora um grande orador foi Luiz Carlos Prestes. Fez um comício na Praça da Estação, que eu assisti, o homem falava 2 horas! Mas não era conversinha não, com argumento. Outro grande orador também que eu conheci, mas não foi muito famoso no Brasil, foi Seixas Dória, lá do Norte. Um baita orador! Mas o Luiz Carlos Prestes talvez tenha sido um dos maiores que eu tenha visto. Fantástico, maravilhoso! Getúlio Vargas: “Trabalhadores do Brasil”. Cada um tem aquele seu estilo né?