Fantasia de Gatinho

MAGELA: O gostoso do carnaval… Porque o carnaval antigamente, os clubes… O Tupi, vou trazer como exemplo o Tupi, por exemplo. O Tupi se sustentava o futebol do Tupi o ano inteiro com renda do carnaval. Como? Baile na sede social, aluguel de mesas… Lotava a sede. Onde que era o baile? Na galeria Pio X, lá em cima. Aquela escada helicoidal. Lá em cima era a sede do Tupi, que mais tarde mudou pra onde está hoje, né? Como é que era gostoso. Porque as famílias iam. Pai, mãe e os filhos. O pai adquiria uma mesa com a mãe, os filhos ali. Gostoso as matinês para as crianças. Pros casados sem vergonha tinha a matinê dos casados no Palace. O Palace não é o cinema não. Ali na Rua Halfeld, quase na esquina da Getúlio Vargas, ali era o Hotel Palace. E tinha um salão, e ali tinha as matinês. E as mulheres iam de gatinho. Quantos maridos namoraram as suas mulheres de gatinho sem saber que ela era esposa dele? Hahaha… Uma das coisas que marcou muito no carnaval foi o incêndio no Clube Juiz de Fora.
FLÁVIO: Quando queimou, acabou a sede antiga, né?
MAGELA: Cinquenta.
FLÁVIO: Foi durante o carnaval, Magela?
MAGELA: Foi no último dia.
FLÁVIO: O que será que causou… Como é que foi esse incêndio?
MAGELA: Ninguém se… Sinceramente, que num ficou provado como é que foi. A verdade é que pegou fogo. Alguém deve ter fumado e botado no cigarro com serpentina, com confete, com lança-perfume que era… Deve ter sido. E acabou… Hoje tem aquele prédio na esquina da Rio Branco com Rua Halfeld.
FLÁVIO: O outro prédio construíram logo em seguida, Magela? Começou aquela obra, ou não?
MAGELA: Demorou algum tempo. Clube Juiz de Fora era um clube da sociedade de Juiz de Fora. A gente ia pra porta do clube ali, quando eu ia com a Dona Mariquita… Tô lembrando, tá voltando. A gente subia a Rua Halfeld pra ver as pessoas entrarem no Clube Juiz de Fora fantasiadas, lindas fantasias. Porque tinha concurso de fantasias. Então cada uma mais bonita… Era a sociedade, era as mulheres ricas, era os homens ricos. Que Juiz de Fora naquela época tinha muita gente rica. E a gente ia, ficava do outro lado da Rua Halfeld vendo subir os homens bem vestidos, de gravatinha borboleta, terninho arrumado, sapato de bico fino…
FLÁVIO: Joia. Eu tenho uma entrevista com o Jorge Cury que ele fala… Parece que vocês usaram as mesmas palavras. Jorge Cury fala isso: que ia pra porta ver pessoas elegantes… As mulheres muito belas, pessoas de festa…
MAGELA: Ah, ele fala isso?
FLÁVIO: Mas igual, parece que vocês usaram as mesmas palavras.
MAGELA: É, mas nós íamos juntos. Quem sabe.
FLÁVIO: As mesmas palavras, ô Magela. O Jorge Cury conta igualzinho, essa entrada, dos baile do clube Juiz de Fora, né, que o pessoal ia ver. O Jorge Cury parece… (risadas)
MAGELA: Mas a gente encantava com aquilo. Encantava. Aquelas fantasias que precisava tá abaixando pra entrar na porta, de grande, alta, elegante. Mulheres lindas. E a gente tá ali vendo. Eu ia com a Dona Mariquita, que Deus a tenha. Esposa do Seu Soares. Mãe do Zé, do Juca. Mãe do Inácio, mãe do Beruta, mãe da Maria, mãe da Eulália, mãe do Beruta, mãe do Bembem.
FLÁVIO: Agora, ô Magela, você, dos seus e sua família, você era o que mais se interessou pelo carnaval ou todo mundo gostava?
MAGELA: Por tudo. Gostava, mas eu é que me interessei. Eu que me interessei por carnaval, que interessei por futebol, eu que interessei por rádio. Não sei porque. Eu num tinha… Que na minha família num tinha ninguém que antes… Os meus ancestrais, não tinha ninguém, que eu saiba, não tinha ninguém com essa vocação. Então o carnaval… Sempre adorei carnaval. Mas adorava o carnaval. Eu gostava das matinês infantis, que não podia vender bebida alcoólica, mas a gente escondia lá nos fundo dos clubes, e levava a cervejinha pra lá pra beber. Grandes bailes do Tupi.
FLÁVIO: No Vasquinho você chegou a ir alguma coisa?
MAGELA: Muito. Muito, muito. Vasquinho, do Geraldo Gherein. Várias vezes. Fomos a gritos de carnaval no Vasquinho. Batalha de confete na Bernardo Mascarenhas, grito de carnaval no Vasquinho. Batalha de confete no Cerâmica, grito de carnaval na sede do Cerâmica. Entendeu? Então, foi… Era um período muito gostoso esse período. Hoje os clubes não fazem carnaval mais. Porque não tem como. Não é que num queiram. Eu fico vendo, baile verde e branco do Sport é um dos remanescentes. Um dos que ainda se sustentam nem sei como. Porque é muito caro o direito autoral. É muito caro a quantidade de segurança que você tem que contratar. É tudo muito caro.