Jogador Profissional

MAGELA: Eu morava na Avenida Surerus, primeiro no 19 e depois no 44, e lá existia o Bonsucesso do Ladeira. E o Bonsucesso do Ladeira era um time juvenil, já comentei isso. Ele disputou uma competição contra o Guanabara lá de São Mateus, no campo do Leopoldina onde hoje é MRS, onde hoje é prefeitura. 1938… Eu fui no jogo junto com o meu tio, 11 anos. O meu tio jogava no Bonsucesso.
Zé Loló, Natalino e Juca. Tinga, Nilo e Pouca Roupa. Totonho, Paulinho, Lulu, Barraca e Tão.
O Bonsucesso perdeu de 1 a 0, nós fomos em caravana, tudo a pé pela Avenida Surerus passando pela linha da Leopoldina, Rua Henrique Vaz, Vitorino Braga… E o Bonsucesso perdeu, foi um domingo de manhã. E eu passei a gostar do futebol desde o dia que meu tio me levou no campo do Tupi com cinco anos, eu passei a gostar de futebol. Mais tarde eu fui jogar no juvenil do Bonsucesso. Eu não jogava nada, mas chutava umas bolinhas. Do Juvenil do Bonsucesso eu fui levado para o Juvenil do Sport, foi onde eu joguei com o Aloísio Tavares, este que eu comentei que depois foi pro Flamengo e depois jogou na seleção carioca na inauguração do Maracanã.
E ali eu comecei minha vida, jogando no Bonsucesso, jogando no juvenil do Sport.
FLÁVIO: Aí você foi pro juvenil do Sport, mas você continuava jogando no Bonsucesso também?
MAGELA: Jogava! Porque o Juvenil era de manhã. Numa época que o futebol de Juiz de Fora abandonou hoje. Em que os campeonatos juvenis levavam grande público, até charanga. E esses juvenis eram os que forneciam os jogadores dos times locais para os aspirantes a profissionais. O Fantasma do Mineirão que é famoso no Tupi, 9 eram de Juiz de Fora dos 11 que jogavam. Os reservas então todos eram de Juiz de Fora.
Mas eu acabei ficando no Juvenil do Sport e dali fui… Até que o Bonsuucesso por falta de interesse dos diretores e tal… Acabou.
FLÁVIO: Era nessa época que você atravessa de canoa?
MAGELA: Atravessava de canoa. Na época do juvenil do Sport eu atravessava de canoa, às vezes nadando, pra treinar no juvenil do Sport. Porque eu aprendi a nadar no rio Paraibuna, não tinha piscina. Tinha mais tarde a piscina suspensa do Sport. A piscina suspensa era pra não entrar água do rio quando o rio enchesse, não era porque eles queriam fazer a maior piscina suspensa da América não. Eu atravessei muito de canoa. Teve um jogo que eu atravessei de canoa pra chegar na hora do jogo, se não chegava atrasado. Foi um jogo do Sport Clube contra o Mineiras, Esporte Clube Mineiras de Eletricidade. E jogando o Juvenil, jogando no aspirante, jogando no time principal do Bom Sucesso. Até que mais tarde o Bom Sucesso acabou.
O terreno em que o Bonsucesso tinha o campo era da família Surerus, e mais tarde ele vendeu o terreno e ali foi construído uma fábrica de meias, e o Bonsucesso perdeu o campo.
Nós formamos mais tarde o nacional, por volta de 48,50.
FLÁVIO: E onde era o campo?
MAGELA: Não tinha Campo, o Nacional treinava no campo da Portuguesa aqui no Bonfim, nós vínhamos treinar aqui. Aqui tinha dois times, o Flamengo e a Portuguesa. Era jogo de morte quando cruzava os dois. E nós vínhamos treinar aqui de manhã, domingo de manhã quando não tinha jogo. E eu já estava mexendo com dirigir futebol. Rapazinho ainda, mas já tava dirigindo.
FLÁVIO: Então você, com mais alguém não sei, organizou o Nacional…
MAGELA: Fundamos o Nacional!
FLÁVIO: Você lembra mais alguém do grupo?
MAGELA: O Zé Martinho Carnozinho, meu cunhado. Fundamos com os moradores da Avenida Surerus e da Maria Perpétua. E fizemos um time de garotos, mas um time gostosíssimo de jogar. Geraldo Barata , João Romano, Peracim, Pedrinho, Dilvo, Cazuza, Gonzaga, Benone, Paulinho, Zé Luis…
FLÁVIO: Eu acho que você começou a extrapolar a coisa de jogar no Nacional.
MAGELA: Foi do Nacional que eu saí para ser técnico do Futebol profissional. Porque o Nacional foi fazendo fama na cidade. Vai jogando e ganhando, jogando e ganhando… Ia jogar nessas cidadezinhas aí perto ganhava tudo. Vai em Goianá ganha, vai em Visconde do Rio Branco, vai em Matias Barbosa… E o Nacional ficou comentado. Garotada!
O Tupi tinha trazido o Airton Moreira, um dos maiores treinadores que o Brasil teve, pra ser o seu treinador.
FLÁVIO: Você acha que você acabou virando o treinador do Nacional?
MAGELA: Eu era o treinador. Eu era tudo!
FLÁVIO: Mas jogava também?
MAGELA: Não! Eu tinha machucado meu joelho no juvenil do Sport!
FLÁVIO: Quando você começa no Nacional você já não estava mais no juvenil do Sport não?
MAGELA: Não, já tinha saído. Já tinha machucado o joelho direito e naquela época todo mundo que fazia cirurgia de joelho fica aleijado. Então eu não quis fazer a cirurgia e até hoje meu joelho ainda incha. Tem que subir uma escada com cuidado, porque se torcer fica uma bola.
Eu como gostava de futebol fui ser técnico do Nacional. Aí o Nacional foi fazendo fama… E de resto eu também.
Mas antes de formar o Nacional eu tava jogando no Bonsucesso, disputando campeonato amador varzeano, uma final contra o São Bernardo no campo do São Cristovão. Isso foi em 1948. Bonsucesso e São Bernardo. Eu lembro do time do Bonsucesso como se fosse hoje!
Geraldinho, Gaia e Malaquias. Perácio, Gonzalês e Austeclínio. Nininho, Iara, Lulu,Barraca e Papussa. O Bonsucesso ganhou de 1 a 0. Foi campeão varzeano.
Como também joguei no Vasquinho, fui campeão no vasquinho… Aliás eu sempre fui campeão. Não to falando isso pra encher boca não, algo que eu não sou é mascarado, eu sou humilde. Também isso é passado, não vai encher…
Aí, estou eu no Nacional, eu voltei atrás pra não deixar isso hiato né. Eu joguei no Central, no Sport… Acho que eu já contei isso. Eu saí para jogar no Central na rua Rua Marechal na segunda divisão, porque eles me deram um dinheiro para me ajudar e eu fui ajudar meu pai tinha montado uma oficina sapateiro na Rua Marechal. Eu já contei isso…
FLÁVIO: Quando você sai do juvenil você vai primeiro pro central ou já tinha fundado o Nacional?
MAGELA: Não, não tinha fundado nacional.
FLÁVIO: Mas quando você saiu do Juvenil você não tava com o joelho ruim?
MAGELA: Não ainda não tinha machucado o joelho. Saí do Sport para ir para o Central, porque eles iam me dar um para jogar no Central. O Central era de uma padaria que tinha na Rua Marechal, lá do lado esquerdo de quem desce, lá embaixo quase chegando na praça da estação. E mais tarde eu também saí do Central, mas eu jogava no Central no Bonsucesso, quando dava para jogar nos dois, folgava um… E fui quando acabou o Bonsucesso fundamos o Nacional. Porque que nós fundamos o Nacional? Porque era muito garoto e os meninos queriam… Diferente. A garotada era: Cazuza, era Gonzaga, era Dilvo, era João Romano, Peracinho, Pedrinho, Hélio… Era uma garotada. E o Nacional como eu já disse foi vencendo.
FLÁVIO: E você já tinha essa questão de ser técnico? Você foi aprendendo a medida que você foi jogando com seus técnicos.
MAGELA: Eu tinha bons treinadores quando eu jogava. O meu primeiro treinador foi o Olegário Filgueras, que era técnico do profissional do Sport que foi campeão de 50, campeão do centenário de Juiz de Fora. Depois o meu técnico foi o Rivarola, um jogador da seleção Uruguaia que o Sport trouxe pra Juiz de Fora pra dirigir o Sport. Eu tive treinadores bons. Foi Isaías Bagno que foi um grande jogador, e dirigia juvenil. Ele gostava muito de ir na várzea pra escolher jogadores dos times varezanos. Eu fui aprendendo.
E mais tarde eu fui apitar futebol, fui ser Juiz, fiz curso de arbitragem. O Gabriel Gonçalves Da Silva, não me lembro que ano foi, o Bié, era diretor de árbitros da liga de desportos,fez curso de árbitros… Eu fiz curso de árbitro. Apitei muito futebol, corri muito em campo. Fui adquirindo uma experiência muito grande. Não só como jogador, jogadorzinho… Muito observador das coisas, eu fui formando um cabedal pra poder mais tarde ser treinador. E veio o Nacional. Nacional brilhou, quero chegar quando eu cheguei a ser treinador profissional.
O Airton Moreira chega em Juiz de Fora, e o time do Tupi não estava indo muito bem.
FLÁVIO: Ele era?
MAGELA: O treinador do Tupi vindo do Bangu do Rio de Janeiro. Numa época em que o Bangu era um dos grandes times do Rio, tinha sido até campeão.