MAGELA: O Josino foi na Rádio Manchester e eu tinha um programa na Rádio Manchester, que também fazia debate, e ele foi debater lá. Foi entrevistado. E ele gostou e lançou na Bandeirantes e tal. E lançou na Rádio Juiz de Fora, que hoje é a Globo. Então a Mesa de Debate foi um programa que acabou sendo útil para Juiz de Fora. Porque ela enfocava assuntos que eram problemas de Juiz de Fora pra tentar resolver, criticando ou não criticando, né? Aí mais tarde ele passou o programa Mesa de Debate pra TV. E na TV ele acabou emplacando, né? E chegou a ter uma equipe, e eu lembro dessa equipe: Carlos Alberto Lemes de Andrade, Wilson Cid, Gerson Occhi, Zé Carlos de Lery Guimarães, né? Nós tinhamos uma equipe!!!! Eu achava, pro rádio de Juiz de Fora, experiente, todo mundo vivido, né? Na vida e na profissão, e não era um programa de fazer gracinhas. Era um programa sério e que se concentrava pra fazer. Quantas vezes o Josino chamava o time inteiro lá na sala dele pra conversar. Sobre o andamento do programa e como que ele queria o programa.
FLÁVIO: Como é que era isso? Como é que era essa orientação do Josino?
MAGELA: Ele chegava e falava. Ele conhecia as características de cada um. Ele sabia quem era mais ameno, quem era mais ácido, quem era menos equilibrado, quem era mais afoito. Chamava e conversava perto de todos, e falava: “Você…” Aí fazia seu perfil. “Eu quero agora que esse programa seja assim, assim e assim, assim. Hoje vocês vão debater esse assunto”. Mas ele não te falava o que que você ia falar. Ele nunca impôs nenhuma palavra na sua boca. Você é responsável. Ele falou: “Vocês são responsáveis pelo que vocês tão falando”. E era assim.
FLÁVIO: E as participações do Josino, participou poucas vezes, né?
MAGELA: Mas era contundente. Até eu me preocupava muito com as participações dele. Porque ele não tinha papas na língua. E ele chegava e sentava o pau. Tá errado, tá errrado mesmo. Tanto que eu e ele fomos processados por aquele deputado federal: Gabeira. Né? Nós metemos o cacete nele porque ele estava querendo legalizar a maconha. E nós achamos que ele tinha outras coisas mais importantes pra tratar. E ele me processou e processou o Josino.
FLÁVIO: Mudou político, mudou prefeito, mudou presidente. Como é que foi a relação de vocês, como é que era com os políticos? Foi sempre boa, com todos os políticos?
MAGELA: Sempre. Mas eles tinham respeito da mesa. Todos eles. Muito respeito. Não era só os prefeitos não. Os políticos disputavam horário pra ir lá. Sexta-feira e segunda-feira os deputado estaduais, deputado federal, queriam ir na mesa. Por que? Porque ele, segunda, ainda não tinha ido pra Brasília ou pra Belo Horizonte. E sexta ele já tinha vindo de Brasília ou de Belo Horizonte. Então eles disputavam. Às vezes você era obrigado a preterir o outro em benefício de outros. Não só os políticos, mas membros da sociedade. Membro da sociedade.
FLÁVIO: A gente acompanhou muito. A gente sabe que essas artista que passavam por aqui… E quantas vezes, por exemplo, vocês receberam lá prefeitos, né? Todos passaram por lá.
MAGELA: Prefeitos da região.
FLÁVIO: Todos, todos passaram por lá.
MAGELA: Da região inteira. Vinha prefeito dessas cidades aí todas.
FLÁVIO: E teve algum programa, por exemplo, assim, você citou agora esse programa do Gabeira. Teve algum momento que você acha que foi mais polêmico? O caldo entornou, ferveu?
MAGELA: Quase todos eram polêmicos. Quase todos. Era um problema que a gente já sabia. Saía do programa sabendo que ia ter reclamação diretamente com o Josino. A gente falava determinada coisa, já sabia. Já um fulano já te falava: “Ô Magela, você hoje vai ter problema, ele vai reclamar com o Josino. Aquilo que você falou ai”. O Carlos Alberto: “Você vai ter problema”. E aí, o Josino falava assim: “Processa ele”.
FLÁVIO: Será que a Mesa teve muitos processos, Magela?
MAGELA: Teve. Muitos. “Processa ele” – falava – “Que eu vou lá defender ele”. Quer dizer, apoiou né?! “Processa ele que eu vou lá defender ele”.
FLÁVIO: E a questão de patrocínio, de botar dinheiro? Por exemplo, nessa trajetória toda da Mesa de Debate. É aquela história… Eu acho que isso era uma coisa mais com o Josino. A gente talvez não tivesse muito acesso…
MAGELA: O Josino não queria patrocínio.
FLÁVIO: Mas quem você acha que botou? Você acha que alguém nesse período botou? Por exemplo, o Tarcísio botou, o Bejani botou, o Custódio botou? Você acha que algum desses botou dinheiro na mesa?
MAGELA: Não. O período que entrou publicidade da prefeitura, ou quando o Tarcísio era prefeito, ou quando o Bejani, ou o Custódio, eram propagandas institucionais que entravam durante a programação, não era específico para comandar o programa Mesa de Debate. Porque o Josino não queria? Porque ele não queria nenhum tipo de interferência. Por exemplo, uma grande empresa patrocina. Ela diz: “Eu não quero mais o Geraldo Magela transmitindo”. Ele diz: “Aqui quem manda sou eu. Eu não quero mais essa matéria, aqui quem manda…”. Então ele não aceitava. Como a prefeitura, por exemplo, patrocinou, jogou inserções comerciais, “não vai influir”. Ele não aceitava. Pode ser que influa outros.
FLÁVIO: Magela, e como é que era sua rotina? Você chegava lá pra comandar a mesa. A que horas você ficava sabendo qual eram os assuntos? Por que você levava uns assuntos, né? Que você queria conversar.
MAGELA: Às vezes.
FLÁVIO: Como era isso?
MAGELA: O programa é o seguinte: chegava lá, meia hora antes, 15 minutos, meia hora antes. Aí que eu ia ver a pauta.
FLÁVIO: Com a Zilma ou com o Josino?
MAGELA: Não, com quem produzisse a pauta. Cada dia era um.
FLÁVIO: Quem normalmente costumava ser?
MAGELA: Quem produziu as pautas foram o Magri, a Zilma, o Gerson, produziu durante algum tempo.
FLÁVIO: Agora, essa pauta do programa tinha pouca informação, né, Magela?
MAGELA: Não, era só. Não tinha subsídio nenhum. Eu sempre achava que nós tínhamos que tomar conhecimento na véspera, pra que você pudesse se inteirar daqueles assuntos, pra você… Mas o Josino achava o seguinte: “Amanhã essa matéria já está fria, está requentada. Tem que ser de hoje. Da manhã de hoje”.
FLÁVIO: Você apresentou durante muitos desses anos no rádio e a Mesa de Debate também na TV, mas ali durante muitos anos, né, foi… Que a TV Tiradentes foi primeiro SBT, depois Bandeirantes, depois Record, né? Passou por essas três. Mas três grandes emissoras, né Magela? Tinha muita audiência.
MAGELA: É, foi.
FLÁVIO: E depois você foi pra TVE. Você acha que você sentiu que a visibilidade diminuiu, ou você acha que o pessoal que assistia continuou assistindo na TVE?
MAGELA: Com o tempo… No início não. No início caiu muito a audiência. Tanto que o Josino colocou para testar a audiência uma moça pra atender o telefone, autorizou as pessoas a fazerem perguntas por telefone. Duas, três. Com o tempo, os meses passaram e aí ela foi crescendo, e um ano depois ela já tinha recuperado a audiência. E, finalmente, ela chegou a dominar o horário. Né? O horário era o horário que a pessoa sabia, apesar das mudanças de horário. Um dia era de 10 e meia às 11 e meia, outro dia era de 11 ao meio-dia, outro dia era de meio-dia a uma, o Josino alterava muito os horários, ao sabor da programação.
FLÁVIO: Ô Magela, o que você me diz do Josino? O que você acha dessa figura?
MAGELA: Ah, o Josino é uma figura fantástica como pessoa. Um grande profissional, muito sério, muito competente. As coisas que ele queria, ele lutava por aquilo. Ele lutou por ter um colégio, ele lutou por ter uma rádio, ele lutou por ter uma televisão. E teve. Conseguiu os objetivos dele. Infelizmente morreu cedo, porque a cidade ainda precisava dele.
FLÁVIO: O Pio XII fez tanto pelo Brasil…
MAGELA: O Pio XII tem alunos formados no Pio XII nesse Brasil inteiro. Olha quanta gente se aculturou no Pio XII, graças à determinação do Josino. Construiu, inclusive, aquele prédio.
FLÁVIO: Quem começou a ensinar computadores em Juiz de Fora foi o Josino.
MAGELA: Josino.
MAGELA: Durante muitos anos, ninguém sabia o que era um computador.
MAGELA: Ninguém sabia…computador. Né? Olha bem, a importância que essa Juiz de Fora falida dá para as pessoas que foram importantes pra ela. Cadê uma rua com o nome do Josino?
FLÁVIO: José Carlos de Lery.
MAGELA: Cadê uma rua com o nome do Zé Carlo Lery Guimarães? Tem tanta gente insignificante, mas insignificante, tem nome de rua. Tem nome de prédios que vão ficar famosos. Tão aí, nada fizeram por Juiz de Fora. O que o Zé Carlos fez, o Josino fez… Cadê esses políticos que ganham um absurdo aí nessa câmara de vereadores que não lembra disso? E eu falo com eles. Cansei de pedir que fizesse uma mensagem de uma praça, de uma rua, de um desses bairros novos que estavam surgindo, com nome do Zé Carlos. Nada.
FLÁVIO: Mas ô Magela, beleza, então aí, em 1999, 2000, né? Aí você foi pra mesa na TVE, você já falou da transição. Você comandou a Mesa de Debate até quando?
MAGELA: Ah, foi quando ele me mandaram embora.
FLÁVIO: Você tem saudade da televisão?
MAGELA: Muita.
FLÁVIO: Mais da televisão ou mais do rádio?
MAGELA: Os dois. Os dois.
FLÁVIO: Se tivesse que escolher um? “Magela, nós vamos fazer um programa”. Você preferia rádio ou televisão?
MAGELA: Rádio.