Capital e Nova Cidade

MAGELA: Aí a Rádio Industrial foi vendida pra Rádio Capital e eu fui pra Rádio Capital. Fiz programa na rádio. Depois a Rádio Capital saiu da Praça João Pessoa. Foi lá pro Jardim Glória. Trabalhei lá, no Jardim Glória.
FLÁVIO: E na Rádio Capital, que programa que você apresentava lá?
MAGELA: Noticiário de esporte.
FLÁVIO: E você também comentava os jogos de futebol?
MAGELA: Fazia programa de esporte, comentava os jogos. Fazia dois programas de esporte por dia.
FLÁVIO: Quem mais foi da Industrial pra Capital?
MAGELA: Todos. Fui eu, Jair Macedo, Milton “Miltinho”… Foi o Clóvis Araújo, Cosme, tudo. Todo mundo. Ninguém saiu, porque eu… Eles assumiram, né. Mas veio um diretor lá que andou criando muito caso lá com muita gente. Um diretor que veio de São Paulo. Depois eu saí de lá e fui pra Rádio Nova Cidade. Era na rua Benjamin Constant. E eu fui lá pra encontrar não lembro com quem. Chegou lá o Josino me chamou, que estava lá: “Ô Geraldo, vem cá. O que você está fazendo”? Falei: “Ah, estou trabalhando na Rádio Capital, mas lá não tem nada”. “Ah, vem trabalhar aqui, ó”. Falei com ele, mas… “Vem trabalhar, pode começar amanhã”. Aí eu fui. Fizemos uma equipe de esporte lá, fantástica. Mas era uma audiência maravilhosa. E lá tinha um programa de debate também.
FLÁVIO: Quem era a equipe de esporte da Nova Cidade?
MAGELA: Eu, José Eduardo Araújo, Alberto Bejani, aquele locutor de Barbacena, Silva Júnior, baita dum locutor, e… Mais tarde a rádio foi vendida pro Beto. Fiz amizade com o Beto, Beto gostava muito de mim, parece até que hoje ainda gosta muito de mim. E eu participava muito dos programa na Rádio Nova Cidade. Rádio Nova Cidade tinha um furgão que fazia o noticiário na rua. Foi onde projetou o Bejani. Alberto Bejani falando da rua. Mas quem lançou isso foi o Josino.
FLÁVIO: Em que programa que o Bejani entrava?
MAGELA: Todos.
FLÁVIO: Aah…
MAGELA: Qualquer programa ele era chamado pra falar. Dar notícia. Com o Josino.
FLÁVIO: Você já conhecia ele da Industrial, né?
MAGELA: Conhecia. Aí quando o Josino vendeu a rádio pro…
FLÁVIO: Beto.
MAGELA: Pro Beto… Me chamou, falou: “Olha Geraldo, eu quero que você continue, eu não conheço muito de rádio AM, meu negócio é FM”. Aí eu comecei dar assessoria a ele. Aí o Fernando Luís foi fazer programa de carnaval. Muita audiência o programa do Fernando Luís. E passamos a fazer uma programação em cima de discos, né?
FLÁVIO: Agora, quando você saiu da Industrial, aí você ficou só com o esporte, né? Porque na Industrial você fazia o seu programa de variedades, não é?
MAGELA: Só, só com o esporte. Aí foi chegando período eleitoral o Beto me chamou. Falou: “Geraldo, eu queria fazer uma cobertura da eleição, mas como é que faz”? Aí eu falei: “Ó, num fica barato, mas eu vou fazer um projeto pra você”. Fiz o projeto, eleição do Bejani. Chamei o Zé Carlos de Lery Guimarães e chamei o Wilson Cid. Trabalhei com dois comentaristas. Trabalhei com uma série de repórteres, inclusive o Sérgio Rodrigues, o irmão dele (Gil Horta), fazendo cobertura dos locais de apuração. E de noite tinha um debate com os candidatos. E como o Bejani tinha trabalhado com a gente na rádio, ele estava em todos os debates. E num dia lá, no primeiro dia foi Bejani, Custódio, Murilo Hingel, Mello Reis, Zé de Castro Ferreira e Jorge Lima. Seis candidatos. O Bejani era o quarto. Quando abriu o programa, eu que apresentava o programa, e o Zé Carlos de Lery e o Wilson Cid participavam como debatedores. Quando abriu o programa, o Bejani pediu a palavra, entrou no meio, não deixou nem abrir direito. “Vou ganhar a eleição. Sô Melo Reis, sô Custódio, sô Murilo, tem pra ninguém não”. Falei: “O que isso, Bejani”? “Né debate? Então, estou falando, vou ganhar a eleição. Eu sou o prefeito de Juiz de Fora”. Aí, todo mundo ficou constrangido, né? “Aí, Mello, vai ganhar. Como é que é, vai ou num vai? Você vai perder pra ele”? Aí eu fiz uma fofocada dos diabos lá, né? Ih, mas deu uma multidão de gente na rua. Você precisava ver como é que foi de carros na rua. Lá no Alto dos Passos. Aquela rua que sai lá na Rio Branco.
FLÁVIO: Esqueci agora.
MAGELA: Na esquina do Bahamas, ali. Mas aí o Bejani falou: “Ó, agora é certo sim. Vou ganhar aqui. Vou ganhar ali”. E ganhou! E ele me chamou, falou… Depois, né. Duas horas depois da apuração você pode me por em primeiro lugar, porque eu vou pro primeiro lugar. E eu pus e ele foi.
E a rádio explodiu, né. Explodiu de audiência, o Beto foi… Tudo que eu falava que ia fazer ele concordava. Falei “Ó, rádio é comigo mesmo”.
FLÁVIO: E até quando você fica lá na Rádio Cidade? Então aí já era Cidade né, ou continuava com o nome Nova Cidade?
MAGELA: Manchester.
FLÁVIO: Manchester. Ah… Isso. Aí a Nova Cidade virou Manchester.
MAGELA: Aí o Bejani vai pra prefeitura, eu saio da rádio. Eu fui assumir a AMAC. Assumi a AMAC.
FLÁVIO: Nesse período que você estava na AMAC, prefeitura, você não fez nada de rádio?
MAGELA: Não. Nada. Assumi a AMAC, depois eu saí da AMAC um ano depois, fui pra secretaria de desenvolvimento econômico e fiquei no governo dele até no final. Quando terminou o governo dele eu já fui pra rádio… Essa rádio que era do Beto, mas que não era mais do Beto, já era do Bejani. Aí eu fui assumir a direção da rádio.
FLÁVIO: E qual era a dessa rádio? Qual era a proposta? O que vocês iam fazer lá?
MAGELA: Musical. Aí eu achei que eu tinha que dar uma explosão de madrugada… De noite. Lancei o programa “Sucessos que o mundo aplaudiu”, ao vivo, todo dia, de 10 à meia-noite. Você precisava de ver o volume da audiência.
FLÁVIO: O que você tocava lá?
MAGELA: Tudo quanto era música de sucesso, com poesias. Um dia uma mulher escreveu pra mim: “o que que era o amor?”. Quem souber onde se encontra o amor, não fale. Não grite. Ele se basta. Pois tendo em conta que ele se encontra nas palavras ou nos gestos esquecidos. Não falei nada, eu talvez sei de mim. Eu respondi o amor assim. Fez sentido?
Sempre gostei de ser útil. Sempre. Sempre. Fazia programa sempre de utilidade pública. Eu sempre me preocupei com o meu semelhante. A vida inteira eu me preocupei com o meu semelhante. Sempre. Agora, por exemplo, quando eu fui internado, que eu estava no HPS, esperando uma vaga na Santa Casa, eu vi um senhor numa cama pertinho de mim, um passo ou menos, e eu falei: “Esse homem vai morrer. Ele está sem recursos”. Ele estava amarelo. Chamei a enfermeira-chefe, falei com ela: “Esse senhor aqui vai morrer, né, senhora? Olha os pés dele, como é que estão amarelos, os olhos dele… Esse homem está com um problema sério”. “Não, é porque está esperando vaga”. Falei: “Tinha treze dias que o homem estava lá. Depois que ele ouviu eu falar isso, ele falou comigo: “Tem três dias que eu não como”. Aí eu chamei ela. Falei: “Minha senhora, ele está falando comigo que tem três dias que não come. Tem que tomar uma providência”. Tinha uma mocinha com ele que era acompanhante, uma nora dele. Aí ela estava reclamando que estava abandonado. Aí, todos os que estavam lá em volta vieram se aproximar de mim, porque viram que eu estava interessado por aquela situação. Aí, quando foi de tarde… Isso foi mais ou menos umas 11 horas da manhã. E ele está lá, sonolento, letárgico, praticamente. Aí, quando foi cinco horas chegou a janta. Péssima. Ele não quis jantar. Porque tinha que ser uma comida especial. Essa mocinha, que estava de acompanhante dele, tirou dois pedacinhos de mamão, colocou num copo de plástico e foi botar na boca dele. Com muito custo ela conseguiu fazê-lo se assentar ao lado dela, mas ele ficou recostado nela. Ela botou o mamão na boca dele e ele com muita dificuldade pra engolir… Mais um pedacinho… Eu tô olhando. De repente, ele foi caindo pro lado eu falei: “Tá morrendo. Tá morrendo!! Olha, o homem está”… Morreu. Aí eu botei a boca no mundo. “Isso é um absurdo. Ser humano, isso não é um cachorro. Isso não é animal, isso é uma… Se fosse um cachorro não era pra estar”… Aí falei pra caramba, e… “Eu quero falar com a direção”. Aí: “Sô Geraldo, a ambulância está aí pra levar o senhor pra Santa Casa”. Aí me levaram pra Santa Casa. Não deixaram eu falar, porque eu ia falar. Muito. Tem pessoas que ficam um mês ali esperando vagas. Terrível. Então eu sempre fui assim. Se eu pudesse ajudar mais, eu ajudava mais. Hoje eu tô precisando de ajuda. Foi minha vida. Minha vida foi assim, vida… Família boa, pobre, mas com muita dignidade. Seu Tavares, Dona Iaiá… Meu pai chamava Seu Juca, José Tavares. Minha mãe, Dona Iaiá. Chamavam de Dona Iaiá. Então sempre fui muito… E meus programas de rádio sempre focados para o apelo popular na ajuda do mais necessitado. Esse sempre foi o meu programa.
Aí a Manchester é vendida pra Igreja Universal. E falou que não ia misturar trabalho com religião… “É, mas infelizmente nós vamos ter que te demitir”. Eu falei: “Pode demitir agora”. Demitiu, saí. Foi assim. Não saí. Não saí magoado, não saí chorando, simplesmente saí com a minha dignidade, que eu sempre tive, e saí com a consciência do dever cumprido.