Entrando na política

MAGELA: Ele (prefeito Olavo Costa) foi o mais atacado e criticado. Eu não sei se ele era pão-duro. Eu sei que naquela época a prefeitura tinha um orçamento pequeno. Eu acho que muitos dos ataques foram em função exatamente disso, queriam tirar dinheiro da prefeitura. E na medida em que eles o atacavam, para os ataques terminarem ou recrudescerem, eles buscavam propaganda da publicidade da prefeitura para os órgãos de comunicação. Acredito muito nisso. Mas o povo não acreditou muito nessas campanhas. Eu sei, inclusive, das pessoas, dos jornalistas que o atacaram muito. Inclusive o Zé Carlos Lery Guimarães, que era na época dos Diários Associados, foi um dos algozes, dos que mais atacou o Olavo Costa. E como eu havia pedido o Olavo Costa pra me ajudar no fornecimento… Primeiro, concedendo o habite-se para a casa da Rua Nossa Senhora do Líbano, nº 600, que era completamente diferente da planta proletária que a prefeitura fornecia para as pessoas carentes. E nós éramos carentes, muito carentes. E eu acabei conhecendo o Olavo. E fui pedir o Olavo pra que ele mandasse aprovar ou conceder o habite-se da nossa casa. Ele disse assim: “Você acha que eu vou mandar derrubar uma casa que está pronta?” E falou com os assessores dele que fornecessem o habite-se. Mas a casa não estava… Como eu já disse, o muro da frente não tava pronto, o passeio não tava pronto. E eu solicitei dele o material. Ele arranjou o material. Brita, cimento, areia… Eu tive que voltar lá na presença dele outra vez pra dizer pra ele que não adiantava ele dá aquilo, porque eu não tinha pedreiro e não podia pagar. Ele forneceu os pedreiros da prefeitura, que fizeram o muro e fizeram o passeio.
FLÁVIO: Era comum o Olavo, a equipe dele, ajudar outras pessoas? Você conhece histórias de outras pessoas que ele tenha ajudado?
MAGELA: Muita gente. Inclusive, tinha senhoras que tinham dificuldades, ele dava máquina de costura. Ele dava a vara pra pessoa pescar. Ele não dava o peixe pronto. Então ele cansou de dar máquina de costura, cansou de ajudar, cansou de mandar levar alimento pra população carente. Ele passou a ser um ídolo da população pobre de Juiz de Fora. E ele se elegia. Ele se elegeu prefeito, se elegeu prefeito, e o filho dele se elegeu depois, o Sérgio Olavo Costa. E eu acabei fazendo uma amizade com o Seu Olavo. Chamava ele de Seu Olavo. E quando foi passado algum tempo, ele mandou me procurar. Foi aí que eu comecei a envolver realmente na política. Antes eu já havia ajudado na campanha do pai do Mario Helênio, Jarbas de Lery Santos, que foi eleito deputado.
FLÁVIO: Você ajudou na campanha dele é porque você conhecia o pessoal?
MAGELA: Não, ele era do PTB. E como eu me inscrevi no PTB, eu acabei ajudando o Seu Jarbas de Lery Santos. Ele era jornalista. Foi um dos que ajudou muito Juiz de Fora. Quem foi que se empenhou junto ao Getúlio Vargas para mandar um engenheiro pra fazer a retificação do Paraibuna e trazer o Getúlio Vargas aqui, foi ele. Foi o Jarbas de Lery Santos.
FLÁVIO: A primeira mesmo, atividade foi esse apoio…
MAGELA: Foi. De colocar dentro do envelope os papeizinhos com nome do candidato. Você colocava dentro do envelope, botava na urna… Então ia o candidato a deputado federal, estadual e tal. E eu ajudei. Como ajudei também o Alindo Zanini, porque formavam dupla. Zanini pra estadual e o Jarbas de Lery pra federal. Então, ajudei muito.
FLÁVIO: E de onde você conhecia o Jarbas de Lery?
MAGELA: Eu conhecia o Jarbas de Lery porque ele morava na Rua Floriano Peixoto e o meu pai tinha a loja na Getúlio Vargas, a loja de calçados, que eu já contei aqui, que eu saí da farmácia pra trabalhar com meu pai na loja de calçados. E aí, eu vi aquele movimento na Rua Floriano, um pouco abaixo da Getúlio Vargas, do lado esquerdo de quem desce. Ele morava ali, não lembro o número da casa. E eu acabei indo lá, até que achei que devia ajudar, e eles acabaram nos vendo lá. A esposa dele, dona Dalila, com quem eu, depois, tive bastante relacionamento, uma senhora muito distinta. Era mãe do Mário Helênio. Eu acabei ajudando ali. Mas, efetivamente, pra participar de uma campanha política foi com o Bié. Foi quando o Dr. Olavo Costa me pediu. Me chamou e falou: “Agora eu que preciso de você”. Eu falei com ele: “Estamos aí, o que o senhor precisar”. Ele falou: “Eu tenho um amigo que precisa ser eleito vereador. Eu quero que você ajude”. Eu falei “Mas eu só tenho meu voto, eu não tenho…” “Não, você fez aquela campanha do Sport lá no Grajaú, da água… E você vai ajudar. Me ajuda aí”. Eu falei: “Ó, mas o Bié não é do PTB? O senhor é do PSD”. Ele falou: “Mas essa hora a gente não vê isso não, não vê partido não. Ele é meu amigo”. Aí eu fui ajudar o Bié. O Bié foi eleito vereador. Como vereador, pelo menos pro Tupi, ele foi um ótimo vereador. Sempre foi ligado ao Tupi. Quando eu falar sobre futebol posso até contar algumas coisas sobre o Bié, já que o Bié foi muito entusiasmado. Ele, o pai dele, o irmão foram muito ligados ao Tupi.
FLÁVIO: No início, você era mais conhecido nessa região, do Grajaú, né? Em função desse movimento…
MAGELA: Ladeira. Eu era conhecido no Ladeira. Na Avenida Surerus, onde eu fui criado, praticamente. Vivi a minha infância na Avenida Surerus, grande parte da minha juventude na Avenida Surerus e Ladeira. Que a Avenida Surerus é ligada ao Ladeira, né? O Ladeira é um bairro de três ruas. E a rua principal passava dentro da Avenida Surerus. Então eu era conhecido, praticamente, ali. Depois eu passei a ser mais conhecido também no Grajaú, onde o meu pai conseguiu fazer uma casa, que era o maior ideal da vida dele, e ele acabou comprando o terreno do seu Ilo de Oliveira, que era irmão do Alonso Ascensão de Oliveira, que foi quem fez o Bom Pastor e fez o Bairu. E acabei conseguindo. Lá eu era conhecido. Por que? Por causa do movimento que nós fizemos junto com Aurélio Brigato, que mais tarde foi vitimado… Ele era eletricista, inclusive do Central, e ele tava fazendo um trabalho na Avenida dos Andradas e ali ele foi eletrocutado. Então eu conheci, eu e ele, ou ele e eu, muito mais ele… Eu… Ele e eu, ou eu e ele, não importa. Fomos trabalhar muito. E fizemos as primeiras reuniões de moradores de bairro para reivindicar.
FLÁVIO: E pra ajudar o Bié você ficou no seu reduto? Ou você chegou a acompanhar ele em outros lugares?
MAGELA: Acompanhei pra vários lugares que ele ia. Cheguei inclusive a almoçar, tomar café de manhã na casa dele, com a Dona Irene. Dona Irene era esposa dele. Uma senhora, também, fantástica, maravilhosa, pessoa muito boa, ajudou muito ele.
FLÁVIO: E quem era o Bié?
MAGELA: Gabriel Gonçalves da Silva, Bié. O Bié foi… Ele já escreveu dois livros. O Bié era um apaixonado pelo Tupi, ajudou inclusive a sustentar o Tupi por 3 anos seguidos, quando o Tupi foi tricampeão da cidade, 35, 36 e 37. E o Bié, depois, enveredou na política. Chegou a ser deputado federal. Ele tem um fato inusitado na vida dele, que ele tomou posse de maca. Sofreu um acidente, e não querendo perder os dias de deputado, ou ceder, ou licenciar-se para… Ele tinha que tomar posse pra licenciar. E ele foi tomar posse de maca. Saiu de Juiz de Fora de ambulância, foi pra Brasília, tomou posse de maca. Porque ele não podia andar, que ele tinha sofrido um problema na perna. Foi um vereador que deu muito apoio ao Olavo, mas fustigou muito o Olavo depois, porque o PTB fazia uma oposição ferrenha ao PSDB. Não, ao PSD, não tinha PSDB. E o Bié, depois, foi ser diretor da Rede Ferroviária Federal, empregou muita gente em Juiz de Fora, e ajudou, inclusive, como deputado federal trazendo algumas… Fez algumas reivindicações em benefício da cidade.