MAGELA: Eu me recordo que eu tinha um programa na TV, já careca, calvo como eu sou. Eu tinha um amigo, o Paulo Resende Costa. Paulo Resende Costa foi uma figura muito querida em Juiz de Fora, corretor, produtor da televisão industrial nos jornais e no noticiário. E ele tinha uma amiga que frequentava um salão que fazia perucas, limpeza de pele e esse tipo de tratamento. Era ali na galeria Pio XII. Um dia ele falou comigo: “Olha, fulana de tal (eu não me recordo o nome) quer te pagar um valor pra você se apresentar com a peruca produzida por ela num programa da TV.”
Eu falei:
-Não vai pagar nada, porque eu não vou botar peruca.
Mas ele enchia tanto que eu falei com ele:
-Ah, eu vou passar.
Apostamos. E ele apostou alto. Eu falei: “Quer saber de uma coisa? Eu adoro o Paulo. Gostava dele demais. Eu vou apostar com esse cara, vou ganhar, mas não pegar o dinheiro não. Só pra mostrar pra ele que eu não sou nenhuma criança, não. Que eu sou homem”.
Aí a mulher vai fazer a peruca. Programa num sábado. Sábado à tarde eu fui lá pra mulher me colocar a peruca. Colocou a peruca… Uma peruca até discreta, bonitinha. Colou aquele trem na cabeça.
E aí eu fui lá, com o Paulo Resende Costa. Fomos lá. E ele muito sacana disse:
-Vamos ali no Café Internacional tomar um cafezinho.
Sabe onde era o Café Internacional? Na esquina da Batista com Halfeld! Aí fomos lá. Estou conversando com ele e ele puxando conversa. Aí um senhor que estava do lado, tomando café também, disse assim:
-O senhor é parente do Geraldo Magela?
-Por que você está achando que eu sou parente? Eu pareço com ele?
-Não a voz é igualzinha a dele.
Aí o Paulo morreu de rir, acho que ele achou aquilo engraçado e subimos a Rua Halfeld pra ir pra TV, o programa era 7 e 30. Eu não sei porque ele ficou rodando comigo ali pela Rua Halfeld. Fui pra um outro café que tinha na Rua Halfeld, lado esquerdo de quem sobe, antes de chegar na Rio Branco (esse eu não lembro o nome).
-Vamos tomar outro café – disse o Paulo.
-Eu vou ficar tomando café?
-Toma com leite…
Pingado é o café com leite. E lá tinha uma porção de gente, se bem que sábado à tarde não dá muito movimento na Rua Halfeld, o movimento grande ali é até uma hora, duas. Mas tinha alguém lá. E ele está conversando comigo, está puxando conversa. Aí, um cara lá no fundo falou assim:
-Não adianta você despistar não Magela, tô vendo. A sua voz não engana.
Aí ele veio de lá:
-Ó, custei pra te reconhecer, estou de lá te olhando, mas quando eu vi…
E o Paulo Resende morria de rir. Eu falei com ele:
-Eu não vou pra televisão com essa peruca de jeito nenhum.
Mas fui. Abri o programa, era improvisado o programa. Tinha umas indicações pra técnica e pra câmera e fazia tudo… Era meia hora o programa. Quando eu fiz um corte pro intervalo… O câmera lá falando:
-Esse camarada que está fazendo programa tem a voz igualzinha a do Magela.
E eu fiz o programa, descemos. O Paulo falou:
-Olha, eu perdi pra você. Eu te pago metade e depois eu pago a outra metade.
Eu disse:
-Você não vai pagar nada, porque eu não quero seu dinheiro. Eu só queria provar pra você que eu sou homem e não nenhuma criança.
Mas nunca mais usei peruca, porque eu sempre me identifiquei com essa imagem. A única coisa que eu não gosto é de cabelo branco.
FLÁVIO: Mas e aí? E os comentários depois?
MAGELA: Todo mundo comentando.
FLÁVIO: Mas então o que você acha do cabelo branco?
MAGELA: Não gosto, acho horrível, mas eu também não estou pintando o cabelo. Mas eu acho horrível, é uma descaracterização. Apesar de que é uma outra fase da sua vida, porque antes você está jovem, cabelo preto, bonito, arrumado, na testa, pra trás ou seja como for. Depois o cabelo vai… Mesmo aqueles que não são carecas, não têm aquele volume de cabelo que tinham quando eram mais novos. Mas eu acho que o cabelo branco descaracteriza.
Felizes são as mulheres que podem pintar e que não têm nenhuma crítica quanto a isso. Pinta um dia de amarelo, outro dia de branco, outro dia de loiro.
Tinha uma tinta que ela não preteava, ela disfarçava um pouco. Essa eu cheguei a usar na televisão, algum tempo, depois eu parei também.
FLÁVIO: Porque seu cabelo não é grisalho. Não sei se você está usando algum xampu alguma coisa.
MAGELA: Eu não uso nada. Só água pra lavar.
FLÁVIO: Porque o seu cabelo não é branco. Você tem o cabelo grisalho.
MAGELA: Mas ele fica diferente, né? Apesar de que ele vai ficando diferente aos poucos, que é para as pessoas irem se acostumando com a sua nova imagem. Ele não fica branco de uma vez, ele vai ficando cinza escuro, durante algum tempo, as pessoas se acostumam ao cinza escuro, vai ficando cinza claro… Depois até ficar branco.
FLÁVIO: Você tem alguma foto desse programa com essa peruca?
MAGELA: Não.
FLÁVIO: Ah, Magela, você tinha que ter essa foto. Essa foto valeria ouro! Fala a verdade?!
MAGELA: Valeria. Não tirei. Só fui uma vez!
FLÁVIO: Pelo o que você falou parece que ficou uma coisa natural, né? Porque as pessoas acharam que era outra pessoa e não que era o Geraldo Magela.
MAGELA: Conheciam pela voz. Esse no café da Halfeld lá em cima ele falou que custou a me identificar. Mas não era grande não. Ela era pequena, tampava aqui.
FLÁVIO: E que programa era esse que você fez com a peruca?
MAGELA: Um programa de esporte que eu fazia na TV industrial.
FLÁVIO: Camisa 10?
MAGELA: Não, o Camisa 10 era aos domingos, esse foi num sábado à tarde. E depois a mulher queria me pagar pra eu aparecer de peruca e falar aonde a peruca foi feita.
-Que vai pagar nada, porque eu não vou aparecer não.
Nunca gostei da descaracterização.
FLÁVIO: E alguém da sua família viu? A Dona Neli viu? Alguém chegou a te ver de peruca?
MAGELA: Viram!
FLÁVIO: E o que eles acharam?
MAGELA: Acharam engraçado! Muito pitoresco!
FLÁVIO: Você mesmo deve ter achado muito engraçado.
MAGELA: Eu mesmo, porque eu vi o take depois. Achei engraçado, mas achei ridículo. Falei:
-Não ponho essa porcaria mais, nenhuma vez.
Tirei aquilo e trouxe pra casa. Ficou muitos anos numa gaveta aí.