MAGELA: Meu Pai é da cidade de Rio Novo. Família Tavares, muito conhecida e era muito prestigiada. Hoje tem muito pouca gente em Rio Novo. Meu pai, José Tavares, meu avô, Pedro Tavares e minha avó, Josina Tavares. Minha mãe veio de Guarani, morar em Rio Novo, ainda criança, e lá ela conheceu meu pai. Minha mãe chegou a ser rainha de carnaval, era uma moça muito bonita, casou muito nova e meu pai também. Casaram-se muito novos. E namoraram, casaram… Casaram em 1926, não me lembro a data, e um ano depois, não chegou a um ano, porque eu sou de 7 meses. A minha mãe quase morreu, teve eclâmpsia, naquela época era muito difícil, os partos eram todos naturais. E ela quase morreu. Quando ela estava grávida, me esperando, o meu pai trabalhava para uma firma de Porto de Santo Antônio. O que que é Porto de Santo Antônio? Era um distrito de Cataguases. Tanto que na minha primeira certidão vinha: natural de Cataguases. E meu pai acabou, porque a minha mãe estava tendo uma gravidez muito de risco, trabalhando em Porto Santo Antônio, ele levou a minha mãe pra lá. Eu comecei a ser gerado em Rio Novo, fui pra Porto de Santo Antônio e lá eu nasci. Minha mãe se chamava Marciana Tavares, família Gouvêa, de Guarani. A mãe da minha mãe eu conhecia por madrinha Lica, que eu era apaixonado por ela, aliás sou. E o meu avô por parte de mãe era o vovô Isac, mas que eu não conheci. Mas então minha mãe e meu pai foram pra Porto de Santo Antônio e lá eu nasci. A minha primeira certidão foi natural de Cataguases. Mas com essa volúpia de emancipações nesse Brasil, nessa Minas Gerais, principalmente. Porque Minas Gerais hoje tem mais de 850 municípios. Logradourozinho que não podia nem, de forma alguma, se transformar em município, transformaram em município e mais de 80% deles não se mantém. Talvez até mais. Mas, por quê? Por causa dos políticos que queriam aquele lugar como cidade pra fazer ali uma seção eleitoral e ele ser o prefeito e eleger vereadores e tal. Aquele negócio de mandos. Mas então eu nasci lá em Porto de Santo Antônio. Quando Porto de Santo Antônio desmembrou de Cataguases, que era distrito, passou a chamar Astolfo Dutra. Eu que era nascido em Porto de Santo Antônio, certidão de Cataguases, fui ser natural de Astolfo Dutra e ficou assim. Lá em Astolfo Dutra eu nasci no dia 24 de maio de 1927.
FLÁVIO: Imagino que nascer de 7 meses naquela época não devia ser fácil, não é?
MAGELA: Ela esteve morta, pelo que me contaram e ela mesmo contava e a minha madrinha Lica, que eu conheci com idade até 4 anos, contava, minha mãe teve pra morrer.
FLÁVIO: E você como neném? Sete meses é uma criança…
MAGELA: Eu era muito pequenininho, eles achavam que eu também não ia vingar, que eu também ia embora. E tanto Astolfo Dutra, quanto Cataguases, quanto Rio Novo tinham muita dificuldade naquela época. Já se vão quase 85 anos, tinham muitas dificuldades. Mas, a providência divina quis mantê-la aqui pra alegria minha, dos meus irmãos e do meu pai. E a minha mãe ficou aqui com a gente até o ano de 1972 , dia 17 de dezembro de 1972, quando ela morreu. Meu pai foi no dia 26 de maio de 1983, quando eu perdi meu pai. Hoje eu não tenho nenhum dos dois, infelizmente, porque me eles me trazem muita saudade. Eu tenho um retrato na cabeceira da minha cama: do meu avô, do meu pai, da minha mãe… Eu tinha verdadeira paixão e sinto muito falta deles, porque eu fui uma criança que apanhou muito. Meu pai batia muito e minha mãe também. Não podia falar um palavrão, era tapa na boca. Naquela época, graças a deus, eu levei muito tapa na boca, porque eu não gosto de falar palavrão, naturalmente, por mais descontrolado que eu possa estar eu não sou de estar falando palavrão. Não sou de estar ofendendo as pessoas, a não ser que eu seja muito atacado. Mas, então, voltando a Astolfo Dutra, meu pai voltou pra Rio Novo.
FLÁVIO: Você é o mais velho de quantos irmãos?
MAGELA: Eu sou o mais velho de 8 irmãos. Sou eu, Geraldo, meu irmão Expedito, que teve uma casa de calçados ali na avenida Getúlio Vargas, 719, Feira dos Calçados. Depois teve meu irmão José Tavares, conhecido por Zezinho. Depois veio minha irmã Maria José, depois veio meu irmão Adélcio, Adélcio era superintendente da receita estadual, aqui em Juiz de Fora. Depois do Adélcio veio a Vera Lúcia, depois da Vera Lúcia veio o Adilson e do Adilson veio o Welington. O Welington é meu irmão, teve uma loja de roupas na Rua São João Nepomuceno, lojas Kely. E eu tenho muito orgulho dos meus irmãos, infelizmente, eu perdi três. Eu perdi o Expedito, que me trás muita saudade pelo equilíbrio dele, pelo espírito de solidariedade que ele sempre teve. Perdi um outro irmão alegre, brincalhão, cheio de vida, forte, que foi o Zezinho. E perdi o Adélcio. O Adélcio era como se fosse um filho meu, muito agarrado comigo, muito ligado a mim. Esses três infelizmente nos deixaram aqui e me trazem até hoje muitas recordações e saudades. Então ficamos cinco.
FLÁVIO: Você nasceu em Santo Antônio e quem mais nasceu lá?
MAGELA: Ninguém. Minha mãe e meu pai vieram pro Rio Novo. Assim que ela melhorou, que ela pode viajar, ele voltou pra Rio Novo, porque Rio Novo tinha mais recursos, inclusive que Porto de Santo Antônio. E lá nasceu meu irmão, o Expedito. O Expedito nasceu em Rio Novo e depois o meu outro irmão. O Zezinho, era viajante, era chamado de Tavares aqui em Juiz de Fora… O meu pai era chamado de Juca, seu Juca Tavares. Passarinheiro , gostava muito de curió, meu pai. Aí o Zezinho nasceu em Juiz de Fora e todos os outros nasceram em Juiz de Fora. Aí nós só íamos a Rio Novo pra passear.
FLÁVIO: Seu Pai se mudou pra Rio Novo, né?
MAGELA: Ele é filho de Rio Novo!
FLÁVIO: Ele estava trabalhando lá em Porto Santo Antônio, né? Ele continuou trabalhando em Porto de Santo Antônio ou começou a trabalhar aqui?
MAGELA: Não. Voltou para Rio Novo. Foi trabalhar em Rio Novo
FLÁVIO: O que ele fazia lá?
MAGELA: Ele tinha um caminhão, que ele puxava açúcar lá de Astolfo Dutra, lá de Porto de Santo Antônio. Minha mãe já tinha melhorado, ele passou a fazer esse trajeto mais vezes e a minha mãe ficou com a minha avó, com a madrinha Lica.
FLÁVIO: Qual era trajeto que ele fazia?
MAGELA: Rio Novo – Porto de Santo Antônio, distrito de Cataguases, que mais tarde foi ser Astolfo Dutra. E depois mudou pra Juiz de Fora e aqui nasceram os meus outros irmãos todos.
FLÁVIO: Aí, quem morava na mesma casa?
MAGELA: Eu, meu pai, minha mãe, meu irmão Expedito, meu irmão Zezinho, minha irmã Maria José, meu irmão Adélcio, minha irmã Vera Lúcia, meu irmão Adilson e meu irmão Welington. Moravam todos ali e mais alguns tios que vinham de Rio Novo. E nós viemos pra Juiz de Fora pra morar na Vila Augusta. Sabe o que é Vila Augusta? Hoje, bairro Democrata. Dali nós mudamos pra rua Duarte de Abreu, nos fundos do cinema Rex. Do cinema Rex, eu lembro como se eu tivesse vivendo lá agora, eu fui morar na Avenida Surerus, nº 19. Na Avenida Surerus, do 19 nós passamos pro 44. As minhas lembranças da Avenida Surerus são as melhores possíveis, aquilo era uma família de todos muito pobres, eram aquelas casas de tijolinhos do seu Henrique Surerus. E ali eu vivi alguns anos muito bons da minha vida.