Rádio Industrial

MAGELA: Estava ganhando a PRB-3. Por isso é que ele (Sérgio Mendes – dono da Rádio Industrial) me chamou. Ele achava que como eu estava vindo de títulos… Eu tinha conquistado o Campeonato Regional pelo Olympic, como técnico. Eu tinha explodido em Juiz de Fora com um timaço do Olympic, clube de Barbacena. Então eu estava com audiência, se eu fosse. Tu falava era ele, então, queria que eu fosse ser o comentarista. Mas ele tinha comentaristas. Mas, diz ele que os comentaristas dele não estavam tendo tempo, não sei o que, arranjou uma desculpa, e eu acabei fui. Três meses depois, fez uma pesquisa eu ganhei como melhor comentarista. Quem fez a pesquisa foi o Milton Lopes, um jornalista que tinha em Juiz de Fora. Pequeno jornaleiro. E eu fui crescendo dentro do rádio. Crescendo no sentido de aparecer oportunidade. Entrava no carnaval cobrindo com muita vontade, com muita disposição.
FLÁVIO: Como é que você chega a ser diretor da rádio?
MAGELA: Na revolução de 64 eu recebi um bilhete, que eles tinham que viajar e que eu tocasse a rádio. Março de 64.
FLÁVIO: Um susto, não, ou você já esperava?
MAGELA: Eu já dava umas contribuições. Foi quando aconteceu aquele fato que eu já contei de colocar a Agência Nacional, quando o comando da 4ª Região Militar queria que colocasse músicas da guerra lá. Aquelas músicas de…
FLÁVIO: Marchas.
MAGELA: Essas. Para provar que Juiz de Fora estava já fora do contexto do Brasil. Aqui era uma outra República.
FLÁVIO: Agora, e pra onde tinha ido Sérgio Mendes e companheiros?
MAGELA: Num sei até hoje.
FLÁVIO: E quando eles voltaram?
MAGELA: Depois, mais tarde, eles voltaram. Voltaram um mês depois.
FLÁVIO: Ah, tipo um mês. Mas aí você que continuou no comando da rádio?
MAGELA: Aí continuei. E eu fiquei ajudando eles nesse particular. Aconteceu durante muitos anos. Trabalhei com eles 25 anos.
FLÁVIO: Tá. E nesse período, Magela, que você tava na direção da rádio, qual que era a programação da rádio? Vão ver mais ou menos qual que era a programação, assim.
MAGELA: A rádio fazia futebol, cobria os treinos do Tupi, do Tupynambás e do Sport. Cobria o noticiário da Liga de Futebol. Noticiários, tinha uma equipe de jornalismo, isso foi mantido. Noticiário era, todo ele, produzido, praticamente, momentos antes de ir ao ar. E a pouco tempo eu lembrei aqui de um nome, da Vera Cury, da Regina Gaio, ela era uma das produtoras do programa. Tinha várias. Tinha uma equipe de jornalismo boa. Além de cobrir futebol, cobrir carnaval… Carnaval episódico, né, porque o carnaval só tem três dia. Mas a gente fazia uma campanha. Um trabalho muito forte cobrindo os ensaios. Porque antigamente o carnaval era precedido disso. Isso eu não quero falar das batalha de confete lá de trás não, já mais recente, dos ensaios das escola de samba. Nós íamos lá cobrir. Ou cobrir ao vivo ou levava um gravador e fazia gravações. Então a rádio fazia isso.
FLÁVIO: E como é que era a briga de audiência com a PRB-3?
MAGELA: B3.
FLÁVIO: É pau a pau? Uma hora um ganhava, outra hora outro ganhava, como é que era isso?
MAGELA: Nós chegamos a ganhar muito, mas eles ganharam também. Eles chegaram a ganhar bastante. O carnaval, nós disputávamos no uniforme. Cada um escolhia uma cor de uma calça, camisa, era tudo ele uniformizado, com o nome da empresa. E cada um queria cobrir mais fidelidade, aquilo do carnaval. Da mesma forma que era o futebol. No campo, no dia do jogo, camisa padronizada. Procurar trabalhar com um microfone sem fio que num existia, tinha que estar esticando o fio pra poder cobrir tudo. Então nós brigavam muito em cima da B3, que sempre teve também muito boas equipes.
FLÁVIO: A Helena Bittencourt começou aonde?
MAGELA: Helena não trabalhou comigo.
FLÁVIO: Não trabalhou?
MAGELA: Não.
FLÁVIO: Ah, achei que tinha trabalhado. Achei que ela tinha trabalhado com você na Industrial.
MAGELA: Não, a Helena Bittencourt não trabalhou comigo. Mas foi uma grande profissional. O programa da Helena era de uma audiência fantástica. O programa da Helena ganhava da Industrial. O programa do Padre Wilson Vale da Costa, da Ave Maria dele disparava. Porque enquanto o Padre Wilson falava na B3, a Rádio Industrial tinha o padre da Academia fazendo as orações dele todo dia.
Ah, a Rádio Industrial tinha bons, excelentes narradores, como também a B3 teve. O Ivan Costa brilhava na B3, como brilha até hoje, depois ele passou pra Industrial. Mais tarde, a B3 teve o Waldir Pinto. Bonzinho. A B3… O Paulo César Magela, veio de Santos Dumont, excelente narrador. Não só excelente narrador, um baita profissional do rádio. Fazia ronda policial. Engraçado… A Ronda Policial disputava o Noticiário da Polícia com a B3.
Depois o Zé Carlos veio fazer um noticiário de policial na Industrial. Foi levado pra lá pra brigar. A B3 tinha um programa chamado… “Alô Rádio-Ouvintes Desportistas”, do Mario Helênio. Todo dia às 11 e meia, tudo quanto era rádio da cidade tava cravado no Mario Helênio. Eu entrei com esse programa na Rádio Industrial, às dez e meia, pra dar as notícias que quando o Mario Helênio tivesse dando eu já tinha dado as notícias. Pra brigar com ele na audiência. A programação era focada em cima daquilo que o outro fazia. “O que que ele tá fazendo? Vamos fazer melhor”.
FLÁVIO: Então, por exemplo, a… Era no mesmo horário que estava a Ronda lá, e o Diário Policial era no mesmo horário?
MAGELA: Não, diferença de meia hora. E você com a diferença de meia hora num pode definir quem tem maior audiência, né. Hoje…
FLÁVIO: Magela, e, nesse seu período, era mais disco ou o cantor?
MAGELA: Não, era mais disco. Mais disco. Nessa época, o período que cantor aparecia pra cantar é só no período de carnaval. Que as escolas… A gente levava os puxadores. Eu não chamaria de puxador, os intérpretes das músicas que seriam exibidas no carnaval. Eles iam na rádio cantar.
FLÁVIO: Então você já num pegou nem cantora, nem novela, nem radioteatro, né?
MAGELA: Não, quando eu já estava não tinha mais.
FLÁVIO: Entendi.
MAGELA: Num tinha mais cantor.
FLÁVIO: Me fala uma coisa, agora eu fiquei curioso. Porque o Sérgio Mendes fez essa modificação lá na Industrial. E a B3 continuava produzindo essas coisas?
MAGELA: Mais tarde, não demorou muito, ela também foi acabando. Na medida que acabou a concorrência, ela não tinha mais porquê. Porque enquanto a B3 tinha o Mario… Enquanto a B3 tinha uma orquestra… A Industrial tinha uma orquestra, a B3 também tinha. Enquanto a Industrial tinha um conjunto musical, pra acompanhar, num precisa… Independente de orquestra, a outra também tinha. Grandes intérpretes da música popular de Juiz de Fora surgiram, ou numa ou noutra.
FLÁVIO: Você conheceu a Osvaldina Siqueira?
MAGELA: Muito. Osvaldina Siqueira foi uma bela intérprete da música popular. E que trabalhou também no teatro.
FLÁVIO: Teatro aqui em Juiz de Fora?
MAGELA: Aaqui. A Vilca de Oliveira também trabalhou no radioteatro. E foi locutora. O marido dela era o Randall de Oliveira, pianista, e trabalhou durante muito tempo, não só na B3, quanto na Industrial.
FLÁVIO: Que programa você continuou apresentando?
MAGELA: Diário Esportivo.
FLÁVIO: A que horas que era?
MAGELA: Dez e meia ao meio-dia… Às onze. Fazia programa das seis e meia, fazia o programa GMT. Hora GMT (Geraldo Magela Tavares).
FLÁVIO: Qual que era o horário mesmo?
MAGELA: De meio dia e quinze até cinco horas. Dia inteiro.
FLÁVIO: E o que cê tocava nesse programa? Aliás, o que que rolava nesse programa, né?
MAGELA: Esse programa… Tudo. Tudo, levava poeta, levava trovador, porque Juiz de Fora tinha o Núcleo Mineiro dos Escritores, que hoje acabou, não sei porque… Juiz de Fora vai perdendo seus valores. Então tinha os poetas, os trovadores… E compareciam sempre. Tinha um quadro do poeta, o quadro do trovador, o quadro do artista, o quadro do cantor.
FLÁVIO: E tinha repórter, reportagem também?
MAGELA: Na rua.
FLÁVIO: Quem que era seu repórter?
MAGELA: Eu trabalhei com vários. Não só trabalhei com um repórter. Trabalhei com Sérgio Rodrigues, esse menino da TV. Foi lançado comigo. O irmão dele, Jair Macedo e vários outros.
MAGELA: Eu escolhia todas as músicas.
FLÁVIO: Que tipo de música que você tocava no seu programa?
MAGELA: Música popular brasileira. O programa “Sucesso que o mundo aplaudiu” que eu fiz… Esse já acabando, encerrando minha carreira, eu atendia muito também pedido do ouvinte. Como também na Industrial. Eu atendia muito pedido de ouvinte, muito. E fazia radiofonização da vida das pessoas. Mandava uma cartinha: uma mulher, mocinha, namorada, brigou, largou, tal… É… Tal… Escrevendo lá.
FLÁVIO: Aí você mesmo lia aquela carta?
MAGELA: Eu mesmo fazia. Coisas que retratavam aquele momento, né? Nada definitivo. Muitas cartas. Muita gente pedindo as coisas. O maior número de pessoas era pedindo as coisas. Fazendo apelos pedindo alimento, pedindo muita coisa. Pedindo roupa… Nós quando tinha essas chuvas, que Juiz de Fora era assolada por chuvas, e prejudicava muita gente, perdia muita coisa, a gente saía na rua. Com o carro. Com a frequência modulada fazendo apelo, com microfone gritando nas praças públicas, pedindo comida e pedindo roupa usada. Fiz muito isso. Muito, pedimos muito, mas muito.
FLÁVIO: As pessoas iam até na rádio?
MAGELA: Ah, na rádio pra conhecer. Iam na rádio pra conhecer, iam na rádio pra levar cartas, iam na rádio pra pedir músicas, fulano oferece pra ciclano. “A dona Maria oferece pro Zé Mané porque o Zé Mané tá aniversariando hoje. Parabéns, Zé Mané!!!” Hahahaha… Era mais. É demais.
FLÁVIO: Magela, você tinha participação, assim, no telefone, na época, ou num tinha?
MAGELA: Muito. Muito. É, mas era um perigo. Sérgio Mendes num gostava. Ele não gostava que botasse telefone no ar. Quando muito ele aceitava a pessoa telefonar, você pegar o telefone da pessoa e você ligar depois. Pra saber com quem você tava falando. Se tivesse algum problema, você sabia com quem você teria… Que iria cobrar. Ele num gostava que fazia isso. Mas o rádio sempre fez isso. Eu, muito. Fiz muito isso.
FLÁVIO: Por que ele tinha medo da pessoa falar uma besteira, uma coisa assim…
MAGELA: Ah é. Esse programa meu do Hora GMT, eu ligava para as pessoas. Por exemplo: Benfica, Dona Maria da rua tal. Ela ligou. “Vão botar no ar”. “Ah, tem um buraco aqui na porta da minha casa, já tem uma semana que o prefeito…”. Aí você aproveitava e sentava o pau no prefeito.
FLÁVIO: Na Industrial você tinha salário, num era só comissão não, né?
MAGELA: Tinha salário. Mas pagava mal pra caramba. Pagava muito mal, atrasava muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito.