TV Industrial

MAGELA: Eu era da Rádio Industrial e o Sérgio Mendes estava lutando pra conseguir o canal gerador de TV. E quem estava lutando com ele, também, pra conseguir um canal, era os Associados, que já estavam em Juiz de Fora lançando a TV Mariano Procópio. E o Sérgio Mendes acabou ganhando o canal, pela ligação dele com Café Filho, com Getúlio Vargas, antiga, né. Nessa época o Getúlio já não influenciou.
FLÁVIO: E tinha um outro político também, que era muito amigo dele…
MAGELA: Santiago Dantas.
FLÁVIO: Santiago Dantas era ministro?
MAGELA: Santiago Dantas era ministro e era um homem muito forte, de grande competência, no governo do Jango. E o Sérgio Mendes fez grande amizade com ele. Muito ligado ao Manuel Vargas Neto, que era irmão do Getúlio. Tanto que o Sérgio chegou a ser uma das grandes figuras do futebol brasileiro. Porque antigamente o futebol brasileiro era gerido pelo Conselho Nacional de Desportos – CND. E tinha um grupo que representava o CND. Toda a normalidade do futebol era através do Conselho Nacional de Desportos, que publicava as portarias regulamentando. O CND tinha os membros do conselho. Eram cinco membros. E o representante de Minas Gerais era o Sérgio Mendes. Era uma figura importante. Já tinha as Federações, tinha a Confederação, que era CBF, Confederação Brasileira de Futebol, e o Sérgio Mendes tinha influência nisso tudo. Até que ele conseguiu, com essas influências, com o Café Filho, que também foi um homem forte da República, ele conseguiu um canal.
E ele usava todos os métodos possíveis. Porque o grande desejo dele era ter uma TV. Duas coisa: era ter um jornal, mas falaram com ele que jornal era muito caro e que não tinha retorno e uma TV. E ele acreditava que uma TV geradora, com a produção local ele pudesse conseguir patrocínio para TV e com isso ganhar algum dinheiro.
Pra que a televisão fosse… Tivesse… Se prosperasse, precisava utilizar o pessoal do rádio. Todo mundo do rádio foi aproveitado na televisão. Porque eu não tendo televisão no Brasil, não tinha ninguém especializado. Né? E com a vinda da TV, era um programa de auditório, novelas, né? Programas de debate, de entrevistas… Era quase tudo… Programas musicais, muitos programas musicais.
Primeira coisa que ele tinha que fazer é arranjar um local pra montar a antena. E ele, sempre muito religioso e com uma ligação muito próxima do Padre Pimenta. O Padre Pimenta era da Academia, que fazia na Rádio Difusora, todo dia, 6 horas, uma prece. E ele teve uma influência na Cúria Metropolitana e conseguiu um terreno lá em cima no Morro do Cristo.
FLÁVIO: O que tinha nessa época no Morro do Cristo?
MAGELA: Só tinha o Cristo, Não tinha mais nada.
FLÁVIO: Então, não tinha aquele mirante, aquele restaurante?
MAGELA: Tinha mirante. Mas o Sérgio acabou construindo uma sede da TV. E ele conseguiu fazer um belo auditório. Junto do auditório, na parte mais alta, a parte técnica, fez uma TV muito bonita que era uma referência, O engenheiro que foi o autor do projeto chamava-se Armando Favatto. Como é que eu lembrei agora, hein? Muito tempo que eu tava querendo lembrar esse nome, agora ele apareceu. Mas o Favatto fez uma torre helicoidal linda, ia lá do zero ao infinito, ia lá em cima. E com muita dificuldade. Ele tinha um supermercado em frente aos Correios da Marechal, supermercado Canguru, que ele vendeu para investir na TV. A grande dificuldade era ir lá em cima. Porque o Cristo, só naquela parte quase chegando no Cristo é que era calçado, o resto era de terra. Tinha que subir, chegar lá.Várias vezes eu cheguei lá com sapato cheio de barro.
FLÁVIO: Até pra fazer essa obra não deve teve ter sido fácil, subir material…
MAGELA: Não. Foi, foi difícil.
FLÁVIO: Você tem ideia se demorou muito pra construir?
MAGELA: Demorou quase um ano. Um ano aproximadamente. Que não foi muito, não é? Porque ele tinha medo deles tomarem dele o canal de novo. E ele começou a agilizar o processo. E acabou inaugurando. Inaugurou em 64.
MAGELA: Faltando uns meses pra terminar, nós começamos a pensar. Nós não, o Geraldo Mendes, com o irmão dele, o Gudesteu, e o próprio Dr Sérgio, já começavam a pensar uma programação. Porque o difícil não era só montar, e dotá-la de todos os recursos, ou de alguns, não todos recursos, pra que ela pudesse ter vida própria. E começou a fazer. E nós continuamos na rádio.
FLÁVIO: Mas já tinha uma conversa, “Ó, Magela, cê vai fazer uma coisa…”.
MAGELA: Não.
FLÁVIO: Tá, não?
MAGELA: Não, não tinha. Eu me surpreendi, até, quando o Geraldo Mendes falou comigo, ele e o Gudesteu, que eu iria participar da inauguração, juntamente com o Valter Monachesi. Disse pra ele que eu não tinha roupa. Eu usei um terno… Um smoking do Gudesteu. Smoking vestia, todo igualzinho pinguim, né? Fiquei sabendo muito próximo da inauguração. E a inauguração acabou sendo um marco em Juiz de Fora.
FLÁVIO: E como é que foi o dia da inauguração…
MAGELA: Ah, foi uma festa. Porque pra inaugurar ele teve que trazer… Pra botar a TV no ar, ele teve que trazer uns técnico da TV Tupi do Rio. Inclusive trouxe umas duas câmeras emprestadas, alugadas da TV Tupi. Eram aqueles trambolhão, grandão, né? Equipe de produção, também veio do Rio de Janeiro. E montou a programação. Foi uma alegria quando viu a primeira imagem.
FLÁVIO: A primeira imagem que você fala foi no dia da inauguração ou dias antes, nos testes?
MAGELA: Nos testes.
FLÁVIO: Você lembra o que mostravam essas primeiras imagens?
MAGELA: Primeiro era feito com slides, né.
FLÁVIO: Slides de que, você lembra?
MAGELA: De imagens da cidade. Do próprio Cristo, de trechos da rua… Enfim, de pontos de Juiz de Fora. E aquilo ficava parado. Porque o slide não tinha movimento. Parado e o texto era colocado, e entrava voz do locutor de cabine. Tinha locutor de cabine, aquele locutor que ficava pra ler os comerciais, que ficava pra qualquer emergência. E a TV acabou entrando no ar e foi muito bonita a festa.
FLÁVIO: Como é que foi esse roteiro dela? Porque você que começou, como é que foi o negócio.?
MAGELA: Não, nós lançamos, né? “Tá no ar e tal a TV Industrial…”
FLÁVIO: Não, mas pera aí, você tá… Você estava de smoking, lá, todo preparado. Mas e aí? Aí o que aconteceu? Aí você abriu uma cortina?
MAGELA: Não, a câmera abre em você.
FLÁVIO: Então você foi a primeira imagem da TV Industrial?
MAGELA: Eu e o Valter Monachesi. A câmera abre em você. “Estamos… Oito horas. Vinte horas. Essa é a TV Industrial, que, a partir de hoje, estará em seus receptores. O objetivo é enfocar as coisas de Juiz de Fora e da região”. E foi por aí.
FLÁVIO: E quem era o Valter Monachesi?
MAGELA: O Valter Monachesi era um excelente locutor da Rádio Industrial.
FLÁVIO: Locutor esportivo?
MAGELA: Não. Tinha um programa de auditório, que ele comandava, muito bom. A programação foi os políticos falando, né?
FLÁVIO: Sérgio Mendes falou?
MAGELA: Falou. Mas ele não era muito de falar não, mas ele falava muito bem, escrevia muito bem. Ele era um baita de um professor de português. Escrevia muito bem. Os textos dele eram fantásticos. Ele não gostava muito de aparecer, mas ele apareceu. E aí começaram a surgir programas de auditório com colegas de rádio. E começou a surgir noticiário.
FLÁVIO: Ele trouxe algum artista?
MAGELA: Veio. Quem inaugurou foi Dóris Monteiro. Era uma menina jovenzinha, que estava brilhando no cenário musical brasileiro, e ela veio.
MAGELA: E eu transmiti muito, comentei muito futebol.
FLÁVIO: Você ia lá pro Maracanã, por exemplo, por aí.
MAGELA: Ia pro Maracanã. Eu ia pro Maracanã, ia um narrador… Narrador foi Geraldo Martins, foi Luís Araújo, mais tarde o Glauco Fassheber. Esses eram os narradores. E na rádio transmitia sábado, domingo, quarta-feira, era uma luta pra conseguir. Nessa época do futebol, quem teve uma influência muito grande na TV Industrial foi o Carlos Sampaio e o Paulo Resende. Paulo Resende Costa, que era um publicitário que depois trabalhou muito na TV Industrial na área comercial. E o Sampaio também trabalhou muito na TV Industrial, não só por ser muito amigo do Geraldo e do Gudesteu, como também tinha facilidade pra vender comerciais. E a TV Industrial, então, passou a transmitir. Pra transmitir jogo do Tupi era possível como: gravar um primeiro tempo, levar para o estúdio, passar aquele primeiro tempo, gravar o segundo e passar depois. A transmissão direta, em Juiz de Fora, era muito difícil. Mas depois passou a se fazer isso também.
MAGELA: Maracanã era direto.
FLÁVIO: E o sinal?
MAGELA: Havia um sinal até Petrópolis, tinha uma repetidora em Petrópolis. De Petrópolis ela jogava, porque lá era um ponto mais alto, jogava aqui no Morro do Cristo. De vez em quando tinha algumas interferências, mas transmitia. Ficava gravado na fita, igual você grava hoje em qualquer gravador.
FLÁVIO: Ah, tá. Áudio e vídeo?
MAGELA: Áudio e vídeo. Aí você jogava até depois no ar.
FLÁVIO: E, assim, por exemplo, quando faz esse jogo Juiz de Fora era o que, era uma câmera, duas câmeras?
MAGELA: Duas câmeras. Como carnaval. A primeira gravação de carnaval foi um sucesso. Mas como é que foi a primeira gravação: gravava uma parte, levava pra TV, jogava no ar e com dois gravadores. E ficava gravando com o outro. Mais tarde é que passou a jogar as gravações da própria Avenida Rio Branco.
MAGELA: A um programa de 10 e meia às 11 na rádio, depois apresentava um programa de 1 às 4, Hora GMT, ia pro Tupi, treinar o Tupi. Saía do Tupi e ia correndo pra TV pra fazer um programa na TV.
FLÁVIO: Que horas que era isso?
MAGELA: Sete e meia.