MAGELA: Aí o Calil (presidente do Tupi) virou e falou:
– Nós não queremos só essa reaproximação sua não. Nós queremos uma aproximação maior.
– O que está havendo?
– Você está acompanhando o Tupi?!
Porque eu comentava pela rádio, e eu sempre fui um comentarista muito cáustico, muito duro. E eu sempre ganhava melhor comentarista. Modéstia a parte. Fui treinador, era fácil, não era vantagem nenhuma.
– Queremos que você vá dirigir o Tupi!
– De jeito nenhum! Não vou não.
– Geraldo, mas o Tupi está…
– Eu não vou mesmo. Agora não adianta.
Eu não queria mais. Naquela altura eu já havia decidido que eu não ia mais mexer com futebol. Aí foram embora. Mas não deixaram de ficar me importunando sabe?
No outro dia voltaram lá, vou eu pro Tupi… Volto. Vou dirigir o Tupi no segundo turno.
Me lembro como se fosse agora. Quando eu cheguei no Estádio Salles de Oliveira, os jogadores estavam todos sentados naquela arquibancadinha ali de baixo. Aí eu falei:
– É… Com a bunda aí nesse cimento vocês não vão ganhar jogo nenhum! Vai trocar de roupa e vamos lá pra dentro do campo.
Aí, pau no burro. E comecei a trabalhar. Tinham alguns jogadores de fora e eu mandei embora. Fiquei com a prata da casa… A maioria.
Peguei o Toledinho que era ponta esquerda e passei pra meia direita. Peguei o Eurico que era meio armador e passei pra ponta esquerda, e fui assim. Peguei o Dário… Ainda não tinha o Dário, eu tinha mandado trazer o Jurinha lá de Recreio. Aí fui armando o time mexendo e tal.
Estreia contra o Andaraí de Barbacena. Ganhamos de 3 a 0. O estresse… Ganhando é sempre bom né.
Naquela altura você não podia perder um ponto. Porque a disputa entre Tupi, Tupynambás, Sport e o Olympic que eu já tinha montado uma estrutura profissional quando lá estive, não era fácil. Qualquer pontinho perdido era o suficiente pra você ficar pra trás. Então você não podia perder.
Aí fomos jogar contra o montanhês de Barroso em Barroso. Antônio Azalim apitando. Aconteceram algumas antes do jogo que eu prefiro nem comentar, com relação a arbitragem. E perdemos o jogo de 3 a 2. Foi um escândalo a arbitragem. Ganhamos e o árbitro ganhou o jogo pra eles.
Naquele tempo se marcava por pontos perdidos e não por pontos ganhos. E nós lá, com 2 pontos perdidos. Aí começamos, agora não pode nem empatar mais. E ganha aqui, ganha ali, ganha lá e ganha, e ganha, e ganha… Termina o segundo turno, pegamos o Tupynambás metemos 4 a 0, Sport 4 a 0 e fomos embora, fomos ganhando. No Sport 2 a 0 em Barbacena, no Tupynambás 4 a 0 lá no Poço Rico, Social 1 a 0 lá… E fomos ganhando.
Termina em primeiro lugar: Tupi e Tupynambás. E aí o bicho pega. Tupynambás tinha um timaço, um goleirasso José de Marcos que o Cruzeiro emprestou, O Davi Chaves em plena forma…
Vamos jogar no campo do Sport, era um jogo só. Tô vendo o jogo aqui. Logo no começo do jogo, uma falta contra o Tupynambás, o Vicente pegou uma varada. 1 a 0. 2 a 0, 3 a 0. Ganhamos o jogo. Campeão do Segundo turno. Não é campeão, era vencedor do segundo Turno. Vem a decisão. Vou vingar de mim mesmo! Tupi e Olympic. Olympic campeão do primeiro turno, Tupi campeão do segundo.
Eu era um ídolo em Barbacena! Como é que eu vou chegar lá em Barbacena? Eu era um ídolo. Todo mundo gostava de mim, inclusive os do Vila do Carmo que era o maior adversário do Olympic. Andaraí, América de lá todos me adoravam. Eu participava de programas de Rádio com o Barbosa Silva. Programas de auditório com perguntas e respostas. Eu tinha uma vida de quando morei em Barbacena ótima, era endeusado. Porque tirei o Olympic de uma situação ruim pra campeão. E eu vou voltar lá, agora como algoz do Olympic, adversário do Olympic. Mas o que eu vou fazer? Lá no meu íntimo eu tava doido pra esse jogo acontecer. Como antes eu queria ganhar do Tupi pra vingar da injustiça que fizeram comigo, eu queria ganhar do Olympic porque eu tinha ganho do meu coração.
Chegamos lá, Jogo encardido! Ganhamos de 3 a 2. Aí vinha o jogo aqui. O Olympic tinha um time bom. No jogo de lá machuca o Murilo, que era um dos maiores zagueiros. Um baita zagueiro. E o Murilo não jogaria aqui, era um grande desfalque. Mas arrumei o time, botei o Lilinho. Hoje o Lilinho mora em São João Del Rei, ele mexe com negócio de cinema. Mas demos uma varada… 4 a 0! Campeão de 65.
Campeão de 65. o Tupi tinha que dar uma gratificação pro jogador, e eu pedi essa gratificação. Porque eu exigi muito.
Hélio, Manoel, Murilo, Heli flores e Valter. Depois no lugar do Heli flores entrou o Dário. França, e Mauro que entrou no lugar do Jurinha. João Pires, Vicente, Toledo e Eurico. Time arrumado. De fora só tinha o Eurico, e o Vicente que veio estudar em Juiz de Fora, ele é aqui do estado do Rio, Barra do Piraí, que acabou formando em Juiz de Fora e jogava no Tupi, e que tinha parado de jogar e voltou comigo, fui lá procurar e insistir, ele era um bom jogador. Aí o Tupi é campeão e eu queria dar uma gratificação pro jogador. Tupi não tinha dinheiro. Vamos fazer um jogo amistoso… E o Tupi entrou de férias. Foi campeão parou. E vamos fazer um jogo amistoso com a renda pro jogador. O próprio jogador ia ajudar a vender o ingresso. O que era uma coisa engraçada. Sabe como é que os jogadores recebiam gratificação? Correndo com uma bandeira entre os torcedores depois do jogo e os torcedores jogavam dinheiro na bandeira. Isso foi antes 65, era assim.
O time da moda no Brasil no momento era o Cruzeiro, que era treinado pelo meu amigo Airton Moreira, que me introduziu no futebol profissional. Vem o Cruzeiro, com Piazza, Dirceu Lopes, Tostão, Evaldo que eles tinham contratado do Fluminense.
E o Tupi parado, deu férias pro jogador, eu também não ia continuar, mas como tinha esse jogo que era em benefício dos jogadores eu fiquei. Fizemos lá um, dois treininhos e vamos pegar o Cruzeiro em Juiz de Fora. Grande público!
Fizemos 3 a 0, depois eu fui fazendo modificações porque…
FLÁVIO: 3 a 0 no Cruzeiro?
MAGELA: 3 a 0! E o Cruzeiro fez 3 a 2, ganhamos de 3 a 2. Futebol de Belo Horizonte tá desonrado, o campeão de Juiz de Fora ganhou do campeão mineiro… Aquela vibração!
E o Atlético Mineiro que tinha contratado o Paulo Amaral que era da seleção brasileira, tava armando um grande time, ele sempre se intitulou o vingador, vamos levar o Tupi lá, Galinha morta né? Vamo ganhar desse Tupi aqui. O Jornal de Belo Horizonte noticiava: Cruzeiro perdeu porque choveu! Uma chuvinha no final do jogo, já estava 3 a 0. Deu uma aragenzinha. Mas choveu pros dois lados do campo, não foi só do lado do Cruzeiro.
Aí o Atlético… E a maioria dos jogadores não queria jogar. Mas eu sempre gostei de desafios, vamos jogar assim mesmo. E o Hélio goleiro que tinha sido titular da campanha de 65, não queria jogar.
-Vocês são doidos, vocês são malucos! Não pode ir lá jogar contra o Atlético. Vamos desfrutar dessa vitória contra o cruzeiro.
Vamos jogar! E fomos pra Belo Horizonte. Tupi 2 a 1! Lá no Mineirão.
FLÁVIO: Que ano era isso?
MAGELA: Já era em 66, porque a decisão de 65 foi em 66, janeiro de 66. Foi no dia em que eu comecei a fumar.
FLÁVIO: Foi por estresse que você começou a fumar?
MAGELA: Não. Teve uma briga comigo e o Geraldo da Silva Leitão que era diretor técnico da liga… Ele me ofendeu, eu o agredi e a polícia me prendeu.
FLÁVIO: Isso foi lá?
MAGELA: Foi aqui. Antes do segundo jogo.
O Primeiro jogo foi em Barbacena, empatou 1 a 1. E o segundo aqui, o Olympic ganhou de 3 a 1. Ele me agrediu, a polícia me prendeu, e o presidente do Olympic era o Doutor Nilton Fonseca juiz de direito em Barbacena não deixou, falou que eu estava trabalhando, e eu fiquei atrás do gol com dois polícias. E um deles era investigador conhecido em juiz de fora, o nome dele era Dorigatti. Ele estava fumando um atrás do outro, ele era Tupi. Ele acabou me dando um cigarro e fumei porque eu nunca fumado. E eu acabei pedindo pra uma pessoa que foi comprar um cigarro naquele barzinho da esquina do Tupi, e ali eu comecei a fumar.
Mas voltando lá, fiz um parênteses para mostrar quando eu comecei a me envenenar. E aí o vou jogar com o Atlético, o Hélio não quis ir. Mas aí o Tupi aceita um convite do Atlético Mineiro. Esse convite não foi muito do agrado dos jogadores, mas tinha que jogar. A maioria: Vamos lá e vamos ganhar deles! Mas o Hélio que era o goleiro da campanha de 65 não quis ir e disse que estava doente. De manhã nós íamos para Belo Horizonte, eu fui lá com o médico do Tupi, doutor João de Castro, lá na Rua 7 Setembro onde ele morava. Chegamos lá, ele estava andando de um canto pro outro numa sala da casa dele, e ofendendo o diretor. “Vocês são malucos, não sei o que, irresponsável.”
Aí viemos embora. Vou embora com um goleiro, Valdir, que era o reserva dele. Mas precisa de um reserva pro Gol. Aí eu lembrei do Herrera, tinha um goleiro que jogou no Tupi anterior a eles. O Herrera tava em Santos Dumont, tinha ido pro Social. Encontramos ele lá no Botequim, de manhã dormindo numa mesa. Botamos ele no ônibus e fomos pra Belo Horizonte. Chegamos no Hotel. Hotel São Miguel na Rua Tupinambás. Vamos jogar com o Atlético! Mineirão recém inaugurado, engole qualquer um né? De tarde peguei os jogadores botei no ônibus e fui no Mineirão. Fui ver o gigante primeiro antes do jogo. Psicologicamente eu achei importante. Entramos no campo eu mandei todo mundo tirar o sapato.
– Vamos andar descalço aqui. Primeiro vocês vão tirar o estresse aqui descalço, joga a energia negativa.
Anda aqui anda ali… Levamos uma bola, brinca com a bola pra lá e pra cá. Ficamos ali uma hora. Deita todo mundo olhando pro céu, descansa, relaxa… Voltamos pro Hotel, fizemos um lanche, vamos embora pro mineirão. 17 mil pessoas.
Vem o jogo. Antes do jogo:
-Vamos entra junto com o Atlético. Na hora que o Atlético botar o pena escada pra chegar no gramado vamo junto!
Por quê? Porque a torcida vai vaiar o Tupi, mas vai vaiar os dois. Vamos entrar os dois. Quando subimos o último degrau o Murilo para. O time do Atlético entra, mas volta pro vestiário.Eu mandei voltar pro vestiário. Tem que voltar, tem que recomeçar. Aí foi aquela bronca, aquele esporro danado. Agora vai entrar num pique só.
Ficamos aquecendo de um lado pro outro, e de cara o Valdir fez uma baita defesa. 1 a 0, João Pires. João Pires fez os gols quase todos. Terminou o primeiro 1 a 0, e eu disse pra mim: Nunca mais eles ganham esse jogo! E voltamos com o a zero…
Sabe quem era o médico da delegação? Geraldo Mendes! Não tinha médico. Geraldo Mendes da rádio, meu amigo foi lá. Chefiando a delegação médica. O Tupi prestou uma homenagem a ele. Aí 2 a 0. O Atlético ficou doido! No final o juiz de um pênalti lá. 2 a 1, ganhamos o jogo.
Belo Horizonte não se contentou. Cruzeiro perdeu, Atlético perdeu. Aí o tava sendo treinado pelo Yustriche que tinha saído Flamengo para o América. “Agora o América vai vingar né?” O Mineirão já não era tão adversário né. Já tínhamos alguma intimidade com ele. E metemos ferro no América. 2 a 1.
Eu lembro que lá tinha um jornal, não sei se ainda tem, chamado Diário da Tarde. Trouxe uma entrevista do Yustriche, e ele menosprezando o Tupi. Que foi acidental a vitória em Juiz de fora, que foi ocasional a derrota do Atlético e que o América ia meter um gol com 1 minuto. O Jogo não começou ainda…
E nós tínhamos uma técnica que eu acho… Eu não sei se poderia chamar isso de técnica. O Massagista do Tupi, o senhor Joaquim que trabalhava na Imbel, uma figura dedicadíssima que ajudou muito o Tupi, um homem competente. Eu treinava com ele quando o Vicente ia bater falta, ele ia pra trás do Gol e abria uma toalha branca pra ter uma referência onde o Vicente ia chutar. E fez assim contra o Tupynambás aqui naquele jogo dos 3 a 0 na decisão do returno.
E vai falta contra o América logo no um minuto de jogo. O Seu Joaquim eu cutuquei nele, ele foi lá, abaixou, abriu a toalha, ninguém percebeu isso, o Vicente percebeu.
– Vicente a toalha, a toalha!
Não sabiam o que era a tolha…
Ele meteu a bola lá na toalha! Nesse jogo o Yustrich agrediu um jogador dele um tal de mosquito. Primeiro um tapa na nuca, depois tirou ele. Porque o mosquito tinha entrado porque eles tavam perdendo de 2 a 0, e ele tinha pra tentar mudar o placar e ele foi expulso.
Aí quando ele saiu expulso o Yustrich agrediu ele, foi uma confusão. E nós ganhamos o jogo.
Nesse período eu ficava em Belo Horizonte, largando meu emprego aqui.
Vai jogar agora com o Cruzeiro de novo. Cruzeiro arrumado, Airton Moreira um baita de um treinador, Lotado… Aí o que acontece? Quem aparece no Mineirão pra conversar comigo? Pra pedir desculpas porque foi ingrato comigo? Seu José Kalil Ahouagi, seu Tufi! Aquele que me afastou quando eu tive o problema. Lá no saguão do Mineirão o Kalil me chamou eu chego lá tá ele. Achei aquilo inadmissível, um homem sério, um homem de bem, uma figura querida, pra que ia me pedir desculpas? Fiquei com pena dele, humildemente tadinho, me pediu desculpas. Aí ele falou:
– Você entendeu?
– Eu entendi seu Tufy!
Ele foi lá me abraçou, preocupado que o cruzeiro pudesse dar uma goleada. E nós fizemos uma zero. o Zé Carlos que tava no banco empatou. Eu fiquei feliz com o empate queria que o Tupi se defendesse, o time foi para cima no finalzinho, teve um corner, Toledo bateu, deu uma confusão na área o Mauro Lima pegou lá uma varada, 2 a 1. Ganhamos de novo! A imprensa de Belo Horizonte: Que time é esse? A rádio Itatiaia tinha um comentarista e tinha um slogan dele, é “coragem para dizer a verdade” e ele me chamou para me entrevistar e ficou empolgado com o Tupi.
– Onde é que você arruma tanto jogador bom?
Valdir, Manuel, Murilo, Dário e Valter. França e mauro, João Pires, Toledo… Um baita time! Aí eu fui e ele me disse isso é um fantasma. Esse time é um fantasma. Isso é um “Fantasma do Mineirão”… E ficou. No outro dia Tupi – O Fantasma do Mineirão. Que tinha até essa campanha do Tupi agora, campeão da série D, talvez a sua maior referência.